domingo, 18 de agosto de 2013

Marina critica manifestações violentas e destruição de bens


Maior beneficiária do abalo que as manifestações

de rua causaram no mundo político, a ex-

senadora Marina Silva, 55, diz que os protestos

que recorrem à violência "extrapolam" os limites

da desobediência civil aceitável.

Tendo saltado de 16% para 26% das intenções de

voto, ela diz que foi um "erro em todos os

aspectos" a presença de um membro da Rede na

depredação do Itamaraty. "No Estado

Democrático de Direito existem regras."

Ela também diz acreditar que o apoio popular ao

nome de Joaquim Barbosa à Presidência

representa mais um desejo de justiça que uma

real aspiração de que o relator do mensalão

comande o país: "Desejos por messias não são

bons em hipótese alguma".

*

Folha - A sra. dizer que não é candidata não

contradiz seu discurso de autenticidade?

Marina Silva - Mas eu não estou dizendo que não

sou. Digo que não estou no lugar de candidata,

que a candidatura é uma possibilidade.

Caso a Rede não seja criada a tempo, o nome

Marina Silva estará na urna em 2014?

Não quero falar por hipótese. Estamos focados

na Rede.

Vocês estudam impor limites a doações, têm

pouco tempo na TV e palanques fracos nos

Estados. Campanha desse jeito não é muito

"sonhatismo"?

Não sei o que você chama de "sonhatismo".

Gostaria de saber o que seria muito realismo? É

aceitar o que está aí como uma fatalidade e que

não existe saída?

A sra. vê Joaquim Barbosa como um candidato

viável?

O que a sociedade está sinalizando com certeza é

que tem um desejo imenso de que a justiça seja

feita, que a impunidade deixe de ser uma

realidade no nosso país.

Não como candidato salvador da pátria, um

messias...

Desejos por messias, eles não são bons em

hipótese alguma, não existem salvadores da

pátria, existem homens e mulheres que se

dispõem a construir a pátria.

A sra. apoia atos que resultam em depredações e

confrontos?

Eu tive um momento muito importante na minha

vida na década de 80 quando fizemos os

movimentos contra os desmatamentos na

Amazônia. Havia um grupo que achava que

éramos tão indefesos que tínhamos de enfrentar

os jagunços na mesma moeda. Na época eu vi

serem assassinados [os ambientalistas] Wilson

Pinheiro, Chico Mendes e João Eduardo. Minha

opção sempre foi de fazer movimentos pacíficos.

Atos de desobediência civil podem ser feitos de

forma pacífica, sem desrespeitar direitos

fundamentais--por exemplo, agressão às

pessoas, ao patrimônio.

Como as autoridades devem lidar com essas

situações?

No Estado Democrático de Direito existem regras

a ser observadas. O Estado está ali para

assegurar inclusive os direitos dos manifestantes

de se manifestarem, mas também para proteger

o patrimônio das pessoas e o patrimônio público.

A sra. acha que aquele integrante da Executiva da

Rede errou no ato do Itamaraty?

Ele próprio reconhece que errou. Sei que ele

errou em todos os aspectos, até porque no meu

entendimento não é com uma atitude violenta

que se vai resolver os problemas.

Qual é a impressão que a sra. tem de

movimentos como a Mídia Ninja e Fora do Eixo?

Eles estão vivendo agora uma série de críticas.

Não tive tempo de aprofundar essas críticas. O

que merece reparação deve ser reparado. Se tem

que algo a ser investigado, tem de ser

investigado.

Petistas dizem que a sra. perderá apoio por causa

das suas posições conservadoras.

Se você fizer uma pesquisa da forma como a

ministra Dilma e o governador Serra se portaram

nas eleições do segundo turno de 2010, acho que

dificilmente conseguiríamos algo mais

conservador do que aquele tipo de postura. A

diferença é que eu procuro dizer exatamente

aquilo que penso.

A sra. diz que manteve nos últimos anos uma

agenda socioambiental. Acha que até a eleição é

possível complementar esse perfil?

Mas quem foi que disse que defender meio

ambiente não é tratar de economia, que falar de

desenvolvimento sustentável não é falar de

infraestrutura, de educação, de ciência, de

tecnologia, de agricultura?

A aparência não é essa: o Datafolha mostra que a

sra. é vista pela população como uma das menos

preparadas para administrar a economia.

A população tem direito de saber mais das

pessoas que ela não conhece. Imagino que o

sociólogo FHC e o operário Lula também tenham

suscitado algumas dúvidas.

Ao se aproximar de André Lara Resende, a sra.

não teme ser associada ao governo FHC?

Se Lula fosse se preocupar em ter ouvido uma

série de pessoas que já deram contribuição em

vários governos, ele não seria hoje o grande

admirador do Delfim [Netto] que ele é.

Autonomia do BC para a senhora é "clausula

pétrea"?

Autonomia do BC é necessária, fundamental. Eu

não acho que devemos é entrar no caminho da

institucionalização dessa autonomia.

Mexeria na Previdência?

O Brasil precisa encarar as grandes reformas:

política, da Previdência, tributária.

Trabalhista?

É algo a ser pensado.

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