domingo, 4 de novembro de 2012

Baby e Pepeu fazem apresentações memoráveis na mesma semana, depois de anos sem tocar no Rio


Deu-se o milagre. Depois da

ressurreição de Baby em show do

Vivo Open Air nesta quinta-feira, dois

dias depois foi a vez de Pepeu Gomes

voltar em grande estilo aos palcos

cariocas (no caso dele, no glamouroso

salão do Copacabana Palace

reservado ao jazzístico CopaFest).

Conjunção astral? Empurrãozinho do

além? Se o que levou o ex-casal a

voltar a se apresentar na mesma

semana depois de tantos anos foi

apenas a coincidência, os cariocas

estão gratos com os deuses do acaso.

Baby só cantava gospel já fazia muito

tempo. Pepeu não tocava no Rio há

quatro anos.

Demorou, mas valeu: cada um fez o

show que quis. Com a voz irretocável

e a animação idem, cabelo roxo

combinando com a saia de tule, Baby

comandou uma espécie de catarse

coletiva enfileirando sucessos dos

Novos Baianos, sem deixar de incluir

seus sucessos radiofônicos

posteriores. O guitarrista não fez

concessões. O título já dava pista:

"Pepeu instrumental". Todo de preto,

com uma cruz prateada enorme no

pescoço, formou uma big band para

fazer a cama de seus solos e mandou

ver num repertório bem menos

conhecido do público, com direito a

"Sem essa de rock", "Xulipe no

reggae", "Brush in the blues", além da

bossanovística "Ligia" (de Tom Jobim,

mas dedicada a Moraes Moreira) e um

animado pout-pourri de choro.

Se os Novos Baianos não estiveram

presentes no repertório, estavam,

digamos, em alma: o próprio Moraes,

assinando texto sobre o amigo na

revista do festival, lembrava como

rapidamente Pepeu assumiu o posto

de maestro do grupo, afinando todos

os instrumentos e deixando tudo nos

conformes para as gravações. Voz só

se ouviu em dois momentos do show:

a do público, acompanhando "Menino

do Rio" (anunciada por ele como o

hino no Rio, única coincidência com o

repertório de Baby dois dias antes) e

a sua própria (em boa forma, aliás) na

música de despedida: "Raio laser".

Ausências sentidas foram "Fazendo

música, jogando bola" e "Masculino e

feminino" (ambas parcerias com Baby,

esta última cantada por ela no seu

show, com direito a uma homenagem

curiosa ao ex-marido: "Agradeço ao

Pepeu, onde quer que ele esteja").

Como nos tempos dos novos baianos,

os shows tiveram pegada familiar.

Baby foi incentivada (e dirigida) pelo

quarto dos seis filhos, o guitarrista

Pedro Baby. Na banda, contou com

participação de Betão Aguiar, filho do

Novo Baiano Paulinho Boca de

Cantor. Pepeu, que é pai de Pedro,

levou para o palco o filho adolescente

e também guitarrista Felipe,

mostrando que a dinastia Gomes no

instrumento de cordas está longe para

acabar. Contou ainda com seu

maestro e tecladista Luciano Alves;

Davi Moraes, gutarrista filho do

parceiro Moraes Moreira, e o irmão

Didi Gomes no baixo (substituto de

Dadi nos Novos Baianos), além de

naipe de sopros, percussão e bateria.

Mas nada disso importaria se o

recado dado não fosse o seguinte:

Baby e Pepeu completaram 60 anos

em 2012 (ele em fevereiro, ela em

julho) e estão em ótima forma. Por

que ficamos tanto tempo sem ouvi-

los? Nestes shows, ambos mostraram

que vigor pouco tem a ver com idade,

e que o retorno de artistas sumidos

não precisa ter o tom de "volta do

ostracismo" ou nostalgia barata. A voz

límpida e a espontaneidade de Baby e

o virtuosismo de Pepeu mostram que

eles têm muito a oferecer ao mundo

da música.

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