quarta-feira, 24 de abril de 2013

Defesa de Bola usa jornalista inocentado para desacreditar delegado

Buscando desacreditar o trabalho da Polícia
Civil no caso Eliza Samudio, a defesa do ex-
policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola,
usou neste terceiro dia de julgamento o
depoimento de José Cleves, um jornalista que
foi indiciado por assassinato pelo delegado
Edson Moreira, em 2000, e absolvido seis
anos depois pela Justiça.

Foi Moreira, atualmente vereador em Belo
Horizonte, quem presidiu o inquérito sobre a
morte de Eliza, a ex-amante do goleiro Bruno
Fernandes. Bola foi denunciado por matar e
ocultar o corpo, nunca encontrado.
Foi também Moreira quem conduziu o
inquérito que apontou o jornalista como autor
do assassinato da própria mulher, Fátima
Aparecida de Abreu, após simular um assalto.
Cleves foi absolvido pelo Tribunal do Júri de
Belo Horizonte por unanimidade e escreveu
um livro contando toda a história. Ele disse
que o assalto ocorrido e a identificação dos
autores nunca foram apurados pela polícia.
No seu depoimento, ele disse que, dois dias
depois do assalto, a polícia disse ter
encontrado o revólver do crime, a 50 metros
do local. Cinco dias depois, ele foi indiciado,
com o argumento de que comprara a arma de
um policial militar, por meio de um amigo.
"Eu nunca usei arma", afirmou.
Segundo ele, laudo pericial indicou depois que
a bala retirada do corpo da sua mulher não
era a mesma da arma atribuída pela polícia.
O jornalista, que trabalhava como repórter
policial do jornal "Estado de Minas", foi
questionado pelo advogado Ércio Quaresma se
fazia reportagens sobre desvio de conduta de
policiais. Ele disse que fazia reportagens "de
interesse público".
Entre essas apurações, disse, estavam
investigações sobre o envolvimento de
policiais civis e militares com caça-níqueis e
sobre o comércio ilegal de armas.

RELATÓRIO
Cleves disse que o delegado Moreira enviou
um relatório de conclusão do inquérito ao
chefe dele no jornal em que trabalhava. Ele
afirmou que não tinha conhecimento se
aquele era um "procedimento comum" do
delegado.
Ele, contudo, não acusou responsabilizou
Moreira diretamente. Questionado pela
promotoria, fez duas conjecturas. A primeira
foi que o delegado não sabia que a arma foi
plantada "por um grupo", mas que Moreira
tinha a obrigação de pedir exame de balística.
A segunda foi dizer que "o delegado não sabia
que havia armação, mas que havia um grupo
dentro da polícia" interessado em plantar a
prova.
IMPRENSA
Quaresma também questionou Cleves sobre a
postura da imprensa na cobertura do caso.
Ele disse: "Acredito que o que foi publicado
pela imprensa não foi por dolo [intencional],
mas por repetir o que a polícia estava
dizendo".
Ele disse, por exemplo, que Moreira declarou
à imprensa ter sido encontrado resíduo de
pólvora no seu braço, o que não ficou
provado nos laudos da perícia.
O objetivo dos questionamentos sobre a
imprensa foi tentar passar aos jurados a ideia
de que, no caso de Bola, a imprensa também
se limitou às informações oficiais. A defesa de
Bola tem dito que esse é um caso "midiático"
e que, nesse caso, a população é muito
influenciada pela imprensa.
Exibindo o livro escrito por Cleves, Quaresma
encerrou seus questionamentos
recomendando a "todos os jornalistas" a
leitura da obra "para ter um pouco mais de
decência".

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