quinta-feira, 25 de abril de 2013

Onda de violência está ligada a aumento de chacinas na Grande São Paulo, dizem especialistas

Especialistas em segurança pública divergiram
nesta quinta-feira (25) sobre a explicação ao
aumento dos casos de violência em São Paulo
no primeiro trimestre deste ano, em
comparação com o mesmo período de 2012.
Crimes violentos como homicídios dolosos
(com intenção de matar), latrocínios (roubos
seguidos de mortes) e estupros não só
cresceram no período como ajudaram os três
primeiros meses deste ano a se firmarem
como o trimestre mais violento nos
últimos três anos .

Para o cientista político e especialista em
segurança pública Guaracy Mingardi, do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da
FGV (Fundação Getúlio Vargas), o avanço dos
homicídios é fenômeno que se observa pelo
menos desde o ano passado e que, dadas as
chacinas na capital e na Grande São Paulo
desde ano passado, se assemelham aos picos
de violência que marcaram o final dos anos
1990 na capital e na região metropolitana.
"Tivemos uma queda nos casos durante 11
anos, a partir do ano 2000, depois do pico e
mortes em 1999. Não sabemos ao certo por
que houve a queda, mas a guerra velada entre
o PCC [Primeiro Comando da Capital] e a
polícia vem desde o ano passado e pode ser
que continue", disse.
Segundo o sociólogo, um dos sintomas de que
a onda d assassinatos teria voltado na
proporção de décadas anteriores é o indício
de as chacinas possam ter sido cometidas por
grupos de extermínio compostos também por
policiais militares –possibilidade negada pelo
governo do Estado.
"Os grupos de extermínio tinham
praticamente acabado, mas voltaram ano
passado Depois que essas organizações se
constituem e ganham uma autonomia que não
era esperada –para vingar mortes, por
exemplo --, fica muito difícil l parar com esse
fenômeno", avaliou.
Mingardi defendeu que o órgão responsável
pelas investigações dos homicídios, o DHPP
(Departamento de Homicídios e proteção à
Pessoa) tenha equipes específicas para apurar
assassinatos nos quais os suspeitos de autoria
sejam policiais.
"O Estado precisa investir em mais gente que
investigue esses casos e treinar essas equipes.
Se a PM mata em média 200 pessoas por ano
na cidade, não se pode simplesmente
transferir a investigação dessas mortes ao
DHPP sem dar a ele sustentação, pois ali já
são investigados os demais homicídios",
declarou.

Para ONG, número de roubo é "alarmante"
Já a coordenadora do núcleo de análise de
dados do instituto Sou da Paz, Ligia
Rechenberg, afirmou que, apesar do aumento
dos crimes contra a vida em comparação a
trimestres passados, os índices "vêm caindo
paulatinamente".
"Não se sabe de fato o porquê da queda dos
índices de violência até começo do ano
passado; ocorre que os dados sinalizam,
porém, que as chacinas ainda acontecem na
Grande São Paulo", disse.
A pesquisadora se refere ao fato de o número
de mortos em homicídios dolosos ser maior
que o de casos. É considerada chacina, por
exemplo, ocorrência de homicídio com pelo
menos três vítimas.
Ao todo, foram 1.189 homicídios dolosos em
todo o Estado, nos três primeiros meses de
2013, e 1.276 vítimas –cerca de 10% a mais
que o registrado nos três primeiros meses de
2012.
"Houve um pico de chacinas na capital entre
setembro e dezembro de 2012, mas em
números muito mais baixos que os da onda de
violência do final da década de 90 e começo
dos anos 2000. Em 2013, por exemplo, São
Paulo teve 305 homicídios no trimestre; em
2002, foram 1.200", citou.
"O que nos chama a atenção é que, de
dezembro para cá, na Grande São Paulo as
chacinas parecem ter não só continuado,
como crescido –porque os registros de
homicídios na região caíram, mas os de
vítimas subiram", completou.
A pesquisadora também alertou para a
quantidade de roubos registrados –59.260
ocorrências no Estado; 28.123, só na capital –
e a relação com os latrocínios, que, ainda que
em menor número (101 no Estado, no
trimestre, e 40 na capital), subiram
percentualmente (82% na cidade de São
Paulo, em relação ao primeiro trimestre de
2012).
"Latrocínio é uma estatística que varia muito;
40 casos em São Paulo é um número alto,
mas se imaginarmos que esse crime é o roubo
'que não deu certo' e terminou com morte,
saber que houve tantos roubos na cidade e no
Estado é algo alarmante", considerou a
pesquisadora.

Onda de ataques e grupos de extermínio
Além da proposta de alterações no ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente),
porparte do governador Geraldo Alckmin
(PSDB), a fim de aumentar o rigor contra
menores de idade envolvidos em crimes
violentos , outro contexto para o aumento dos
índices de violência na capital paulista são
as chacinas recentes em cidades da Grande
São Paulo e os ataques incendiários a ônibus.
Na noite dessa quarta (24), por exemplo, um
ônibus foi incendiado após assalto no Jardim
Cumbica, em Guarulhos. Ninguém ficou
ferido.
Também nessa quarta, os chefes das polícias
Civil e Militar no Estado afirmaram, em
entrevista coletiva, que ao menos dois PMs
de Osasco (Grande SP) estão presos
administrativamente suspeitos de
participar de chacinas na cidade e em
Carapicuíba, em fevereiro e abril deste ano.
Além dos PMs, dois vigilantes noturnos são
investigados e foram, junto com os policiais,
alvos de pedido de prisão temporária à Justiça
hoje (25).

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