sábado, 18 de maio de 2013

Em Belo Horizonte, ex-faxineira vira "celebridade" por falar quatro línguas

Não restou outra alternativa nesta sexta-feira
(17) à administração do Mercado Central de
Belo Horizonte: arrumar um uniforme novo
para as imagens e organizar as entrevistas da
ex-faxineira Maria da Conceição da Silva, após
a súbita fama da pernambucana, quando os
colegas descobriram que ela fala inglês,
holandês, italiano e espanhol, além de
"arranhar" alemão, árabe e hebraico, e
contaram para a diretoria do mercado.
Com isso, em pouco mais de 15 minutos de
conversa, com o superintendente do mercado
Luiz Carlos Braga, informado no início de
maio, que, além de poliglota, a faxineira tem
formação superior em contabilidade, Maria da
Conceição foi promovida a atendente turística
do Mercado Central. Seu salário passou de R$
674 (salário mínimo) para R$ 1.100, com a
promoção.
"Estamos organizando. É para ficar mais
ajeitado", afirma o superintendente, que pede
que os jornalistas formem uma fila para falar
com a empregada do mercado.

Maria da Conceição  agora atendente turística disse que há
exageros na repercussão do caso e que não se
sente celebridade.
"Senhor, estão exagerando. Eu só falo quatro
línguas. O alemão, árabe e hebraico, eu só
arranho o alemão, árabe e hebraico. Não tem
nada disso não", diz Maria da Conceição.

"O hebraico estava aprendendo com um
amigo marroquino. Eu só arranho, não falo".
O mundo sem fronteiras
"Sou filha de pais separados. Meus irmãos
mais velhos foram criados pela minha avó
materna. Um outro foi criado por parentes.
Minha mãe me doou ainda bebê. Mas
arrependeu-se e me buscou mais tarde.
Aos 11 anos, Maria da Conceição trabalhava
como recepcionista e, a mãe, como
doméstica. "Estudava em colégio de freiras.
No escritório, fazia serviços gerais e
datilografia". Mudou-se com a mãe para
Fortaleza e lá fez o ensino fundamental num
colégio militar.
Após o período na capital cearense,
transferiu-se novamente com a mãe para
Elesbão Veloso (PI), onde morou na casa de
uma irmã. De lá, foi para Teresina e concluiu
o ensino médio no Colégio Salesiano. Mudou-
se com a mãe para Campina Grande (PB),
onde trabalhou em diversas profissões.
"Comecei no levantamento de estoque em
uma loja de autopeças, depois fui para o
balcão. Aprendi muito. Fiz serviços
hidráulicos e de servente de pedreiro
também. Fui doméstica e até em oficina
mecânica trabalhei". Nessa cidade paraibana,
em 1991, a mãe morreu.
Em 2005, Maria da Conceição trabalhava
numa oficina de informática quando conheceu
um alemão, um espanhol e uma holandesa.
Eles faziam intercâmbio no país e foram
embora. Mas a amizade foi mantida por meio
de contatos pela internet. "Numa dessas
conversas, entrou uma mineira, dez anos mais
nova, que se tornou minha companheira. Sou
homossexual".
As duas foram convidadas pela amiga
holandesa para se mudarem para lá. Toparam
e, em Amsterdam, fizeram faxina e reforma
de residências para sobreviver. Foi aí, que
Maria da Conceição começou a aprender,
"com uma certa facilidade", as línguas que
hoje domina.
Voltou o ano passado, após ter conhecido boa
parte da Europa, e veio morar com uma irmã
em Belo Horizonte e, óbvio, teve de procurar
emprego.
Acabou arrumando o de faxineira do mercado
e, agora, a promoção, quando foram
descobertas suas qualificações.
15 minutos de fama
Dá um sorriso largo e avisa à reportagem,
quando se prepara para atender outro
jornalista, já impaciente na fila: "Eu sei disso
tudo. São os 15 minutos de fama..."
"Você acha que eu sou boba? Isso tudo passa
rápido". Entretanto, não esconde uma leve
expectativa com a súbita fama: "Emprego? É.
Isso pode ser que melhore um pouco", afirma
Maria da Conceição, antes de partir para
outra entrevista.
Em Belo Horizonte, desde setembro do ano
passado, procurou trabalhar em escritórios
mas não conseguiu. "As pessoas criavam
dificuldades: veio da Europa? O que fazia lá?
Já passou dos 40? Tem curso superior,
precisamos de pessoas com formação até o
ensino médio", diz.
"Fiquei sabendo que havia vaga na faxina do
mercado e fui ao escritório. Mas não
apresentei currículo e omiti a formação
superior e o fato de falar outras línguas",
afirma.
Ela afirma teve dificuldades para arrumar
emprego em Belo Horizonte, mesmo com a
boa formação educacional. Por isso, foi para
a faxina do mercado e, agora, o atendimento
aos turistas.

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