O diretor de Controle e Monitoramento
Sanitário da Anvisa (Agência de Vigilância
Sanitária), José Agenor da Silva, afirmou nesta
quarta-feira (27), em audiência pública na
Câmara dos Deputados, que o órgão regulador
não foi comunicado oficialmente do problema
ocorrido com o suco AdeS, fabricado pela
Unilever, que teve um lote contaminado
com soda cáustica. Segundo ele, as
secretarias de Saúde de Minas Gerais e de
Pouso Alegre também não foram alertadas
pela empresa.
PRESIDENTE DA UNILEVER PEDE DESCULPAS
Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o
presidente da Unilever Fernando Fernandez
justificou que uma combinação de falha
humana e mecânica que durou 80 segundos
levou à contaminação do lote do suco AdeS.
Segundo ele, o operário não detectou o final
da produção de um lote e colocou o
equipamento para funcionar de novo, quando
foi envasada uma solução de higienização.
Fernandez reconheceu o erro e pediu
desculpas. Na sexta-feira (22), a Secretaria de
Saúde de Minas Gerais concluiu que as
unidades do suco AdeS foram afetadas por
hidróxido de sódio a 2,5% -- soda cáustica
diluída
No último dia 25 de fevereiro, houve uma
falha na linha TBA3G – uma das 11 linhas da
fábrica de Pouso Alegre – onde foi fabricado
o lote AGB25, que seriam de suco de maçã de
1,5l. No lugar do suco, o líquido envasado
era soda cáustica diluída.
Mais cedo, na audiência pública da
Comissão de Defesa do Consumidor, o
vice-presidente da Unilever Brasil,
Newman Debs, havia dito que a empresa
comunicou oficialmente as autoridades
competentes tão logo soube da falha ocorrida
na fábrica em Minas. Debs frisou que assim
que a empresa teve conhecimento da falha
foram tomadas todas as medidas para
divulgar o fato à população pela imprensa e
por meio dos órgãos competentes.
O diretor da Anvisa, no entanto, afirma que a
agência soube do caso pela imprensa e, a
partir daí, pediu explicações da empresa.
"A Unilever está presente no Brasil há 83
anos. Há 40 anos existe a fábrica de Pouso
Alegre (MG) e há 15 anos a fábrica produz o
suco de soja. Este fato, do qual estamos
conversando, é um fato pontual de um
produto de 15 anos de existência", afirmou
Debs aos deputados.
O diretor da Anvisa reconheceu, no entanto,
que a legislação brasileira não obriga a
empresa a comunicar imediatamente a
agência em casos como este. "Falamos da
gravidade da Anvisa não ter sido comunicada
e é um fato que realçamos. A legislação não
determina que comunique, mas com parceria
que temos com o setor, achamos que
deveríamos ter sido comunicados", afirmou
José Agenor.
O vice-presidente da empresa argumenta que
tratou primeiro com o consumidores, seguido
pelos órgãos de fiscalização locais e depois
atendeu aos pedidos da agência.
"A Anvisa foi recebida na nossa fábrica. Ficou
vários dias lá dentro, nos pediu informações
adicionais e nós tivemos na Anvisa prestando
os esclarecimento adicionais", emendou o
vice-presidente da empresa.
José Agenor afirmou que a Anvisa estuda se
cabe penalização à empresa. "Não posso
antecipar se haverá multa ou não", disse. Ele
informou ainda que a Secretaria de Saúde de
Minas está finalizando um relatório de
inspeção sobre o caso.
Nova norma
O diretor da Anvisa afirmou ainda que a
agência está concluindo uma norma relativa a
recall de produtos alimentícios. Essa norma
está sendo avaliada pelo setor jurídico da
Anvisa e, depois, será posta em consulta
pública.
De acordo com José Agenor, desde 2007 a
Anvisa detecta problemas no recall desse tipo
de produto, por isso a norma está sendo
aperfeiçoada.
O vice-presidente da Unilever ressaltou, na
audiência, que a empresa adota "controles
redundantes" no processo de fabricação, mas
que não foram suficientes para evitar a
contaminação do suco. Por isso, segundo
Newman Debs, esse controle será
intensificado, assim como o investimento em
treinamento de pessoal.
Debs acrescentou que será aumentado o
tamanho da amostragem e o período de
retenção de produtos que são submetidos a
análise laboratorial após a embalagem.
Histórico
Segundo a Unilever, desde o último dia 13 de
março nenhum outro produto fabricado na
linha TBA3G foi distribuído e a linha de
produção afetada pela contaminação está
inativa. A empresa afirma que já adotou as
medidas corretivas e está "colaborando com a
Anvisa com o fornecimento de todas as
informações necessárias para a revogação da
interdição cautelar que possibilitará o retorno
da fabricação, bem como a liberação para a
distribuição, comercialização e consumo dos
lotes da AdeS com as iniciais AG (exceto
AGB25).
A Anvisa e o Departamento de proteção e
defesa do consumidor do Ministério da Justiça
disseram que ainda é cedo para calcular o
quanto quais as punições a empresa poderá
ter em função da falha. Com relação ao
pagamento de multa, o valor máximo previsto
pela Anvisa é de R$ 1,5 milhão, e, pelo
Código de Defesa do Consumidor, pode
chegar a R$ 6,2 milhões.
Orientações ao consumidor
A orientação da Anvisa é que os consumidores
não utilizem os produtos já adquiridos e, em
caso de queimaduras ou outros sintomas após
consumo, procurem um médico. A solicitação
de troca, reembolso ou reparo a quaisquer
danos decorrentes do consumo do produto
contaminados deve ser feita pelo SAC (serviço
de atendimento ao cliente) da empresa por
telefone no 0800 707 0044, das 8h às 20h,
ou por e-mail pelo sac@ades.com.br.
A Anvisa também dispõe de uma canal de
atendimento ao cidadão no 0800 642 9782.
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