Preparadores brasileiros são mestres do
improviso e tiram leite de pedra de motores
AP, da Volkswagen (um dos mais queridos
entre os fãs de preparação), que depois de
anos de desenvolvimento, estão entre os mais
rápidos e poderosos do mundo.
A "concorrência", porém, tem corrido atrás
do prejuízo. Já não é surpresa quando um
Chevrolet, por exemplo, figura entre os
vencedores de arrancada nas categorias de
tração dianteira.
Encontramos um ingrediente para temperar
ainda mais disputa: um Fiat Palio 1.8 R,
apimentado ao estilo nordestino. "Achei o
carroem um desmanche de Fortaleza (CE), aos
pedaços, sem documentos e pronto para ser
vendido depois de ser arrematado em um
leilão", conta o piloto Rodrigo Lisboa, que
precisou de dias para convencer o
proprietário do ferro-velho a vender a
raridade.
Disso nasceu o inusitado projeto -- do próprio
Lisboa e de seu amigo Neto, dono da
preparadora cearense Clinicar Drag Racing --,
que surpreendeu a todos no Festival Brasileiro
de Arrancada.
RESSURGIMENTO
Esse "intruso" nas provas de arrancada já
dominava o cenário pelo nordeste brasileiro.
A meta era enfrentar os gigantes da
modalidade no Festival Brasileiro de 2012,
realizado em Curitiba (PR). "Em nossas pistas
no nordeste, não temos o grip que
encontramos em Curitiba e a cada puxada
conseguíamos melhorar alguma coisa e
corrigir pequenos detalhes", explica Neto.
Só que ninguém prepara um Palio 1.8 R para
competir só por achar o preço no desmanche
convidativo. É preciso mais. "Começamos a
tomar gosto pelo motor Fiat no mundo dos
carros preparados por conta dos Uno Turbo,
carro que gosto muito. Tanto que tenho um
exemplar amarelo e não troco por nada",
revela o preparador.
PALIO 1.8R 1.6 16V
Da paixão pelos motores turbo da Fiat, a
oficina da dupla desenvolveu diversos níveis
de preparação, para rua e pista. Lá, é possível
extrair até 250 cv de motores 1.4 8V,
450 cv de 1.6 8V, ou chegar ao limite, como
na preparação feita para este carro, que usa
um motor 1.6 16V (é isso mesmo, o Palio 1.8
R deixou de lado o motor 1.8 8V para usar
o Hi-Torque 1.6 16V, o mesmo que equipava
a primeira geração do Palio).
Apesar deste tipo de propulsor não ter
tradição em preparações desse nível -- nem
mesmo por especialistas em Fiat na Argentina
--, diversas peças são intercambiáveis com os
motores da linha Sevel 1.6 8V, muito
explorado pelos hermanos, inclusive.
Detalhe: o Sevel foi criado pelo conceituado
engenheiro da Ferrari, Aurélio Lampredi, com
pistão de diâmetro maior do que o de curso
(87 mm x 78,4 mm), favorecendo a alta
rotação.
Neste caso, pistões forjados Iapel, bielas
(também forjadas) Saenz e o virabrequim do
Linea 1.9 seguem à risca as medidas do
padrão Sevel.
CANHÃO
Para extrair 820 cv (medidos no
dinamômetro), o preparador optou por um
turbo da brasileira Master Power, da linha
Racing. O modelo do turbo, chamado 802390,
possui eixo de 69 mm e rotor com 67 mm,
tampa fria .72 e caracol quente 1.00.
"Testamos vários tipos de turbo e foi essa
configuração que rendeu mehores resultados.
Não é um turbo gigantesco, mas devido à
eficiência dos coletores de admissão e escape,
a potência veio com 3 kg de pressão", revela
Neto.
Segundo o preparador, a maior dificuldade
em um projeto desse tipo é o tempo gasto na
fabricação, muitas vezes artesanal, de cada
peça. "Antes de ir para o carro, tudo é
desenhado em 3D. Esse processo simplifica
o percurso e diminui os custos com o
desenvolvimento", finaliza.
RESULTADO
Com todo esse tempero, o carrinho fez bonito
em sua estreia no Festival de Arrancada.
Percorreu os 402 metros em 10s491, a
233km/h -- os 201 m (metade da prova)
foram engolidos em 6s8, a 183 km/h.
Preparador e pilotos garantem que isso "é só
o começo". Vai encarar?
Esta matéria é uma adaptação de
reportagem publicada na revista Fullpower
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