Em entrevista na saída do sepultamento de
Chorão, em Santos, o baixista da banda
Charlie Brown Jr., Champignon, disse ao UOL
que "Ainda é cedo para decidir qualquer
coisa, ainda vamos conversar. Mas não temos
como continuar sem ele".
Segundo o baixista, o Charlie Brown ainda
tem um último álbum para ser lançado e que
o primeiro single, "Meu Novo Mundo"
começou a ser divulgado nas rádios
hoje. Sobre a morte, Champignon afirmou que
estava muito triste e que "a fama é um
embrulho muito bonito, mas se não tiver nada
dentro, do que adianta?".
O integrante comentou que irá guardar na
memória o trabalho que eles realizaram na
música. "Fiquei sabendo que o Axl comentou
que o Brasil perdeu um grande ídolo do rock,
nem sabíamos que éramos conhecidos fora do
Brasil."
Velório e sepultamento
O corpo do cantor Chorão foi sepultado na
tarde desta quinta, no cemitério Memorial
Necrópole Ecumênica, em Santos, por volta
das 17h.
Entre os familiares, acompanharam o
sepultamento a ex-mulher, Graziela
Gonçalves; a primeira mulher de Chorão,
Thais Lima; o filho dela com o cantor,
Alexandre; o irmão do músico, Ricardo Abrão;
e a apresentadora Sônia Abrão, prima de
Chorão. Também estiveram presentes no
local integrantes do Charlie Brown Jr., o
músico Marcelo Nova --com quem Chorão fez
parceria no Acústico MTV-- e Falcão, vocalista
do Rappa.
De acordo com informações da assessoria de
imprensa do cemitério, o corpo de Chorão foi
sepultado provisoriamente no quinto andar,
onde poderá ficar por até três anos,
aguardando a decisão da família sobre a
cremação. O desejo do cantor de ter o corpo
cremado só poderá ser realizado após
liberação pela polícia. Ainda segundo a
assessoria do cemitério, o local estará sempre
aberto para os fãs que quiserem visitar o
corpo de Chorão.
O velório de Chorão teve início às 23h20 de
quarta, com a chegada do corpo à Arena
Santos. O espaço ficou fechado por cerca de
uma hora e meia apenas para a família e os
amigos próximos, e depois foi aberto para
fãs.
A ida da ex-mulher do cantor, Graziela
Gonçalves, ao velório causou tensão no local.
Pouco antes de sua chegada, a irmã de
Chorão, Tania Wilma Abrão, dizia aos gritos
que a ex-mulher era a culpada pela morte de
seu irmão. A família acredita que a separação
foi a responsável pela depressão que levou
Chorão a morte. Mais cedo, no IML de São
Paulo, o irmão do vocalista, Ricardo Abrão, já
havia se desentendido com Graziela.
Fontes próximas a Graziela dizem que as
drogas levaram Chorão à morte, e não a
separação, como alegam os familiares. Uma
amiga da família contou que o apartamento
do cantor, na zona oeste da capital paulista,
seria o reduto de Chorão para o consumo de
drogas, o que incomodava Graziela, casada
com Chorão havia 15 anos. Eles estavam
separados desde o final de 2012, mas ainda
não tinham oficializado o divórcio.
Apesar da confusão com alguns familiares,
Graziela foi recebida com carinho pelo filho
de Chorão, Alexandre, e por amigos do cantor
presentes na cerimônia.
Mais de 2 mil pessoas haviam passado pela
Arena Santos até a manhã de quinta.
Morte
Chorão foi encontrado morto na madrugada
de quarta (6) em seu apartamento, que fica
no oitavo andar de um prédio no bairro de
Pinheiros, em São Paulo.
As circunstâncias da morte estão sob
investigação do DHPP (Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o
delegado Itagiba Franco, da Polícia
Divisionária do DHPP, o motorista e o
segurança do músico chamaram o Samu
(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)
por volta das 4h30.
A equipe de socorro encontrou o corpo do
músico de bruços no chão da cozinha, com as
mãos machucadas e já sem vida, sozinho em
casa. O apartamento estava revirado, sujo e
havia bastante vestígio de sangue. Bebidas e
pó branco também foram encontrados no
local, mas o delegado não confirmou se era
droga.
Em imagens feitas durante a perícia da Polícia
no apartamento de Chorão, às quais o UOL
teve acesso, o corpo do músico estava
cercado por lascas que aparentam ser parte
do enchimento de um saco de pancadas de
boxe.
A lateral do abdome do corpo apresentava
hematomas, e metade do rosto estava
machucada e coberta por sangue. O dedo
mínimo da mão direita também aparentava
estar quebrado. No balcão da cozinha,
próximo ao corpo, havia uma pequena
quantidade de pó branco em cima de um
catálogo de filme pornô, ao lado de um
canudo feito com uma folha de cheque.
O exame toxicológico, que vai apontar
evidências de cocaína ou outras substâncias
no corpo de Chorão, será divulgado em duas
semanas. Itagiba revelou ainda que foram
encontrados, na casa, frascos do ansiolítico
Lexotan e uma pasta de dentes usada para
adormecer a gengiva --Chorão costumava
morder a boca quando estava ansioso.
De acordo com Itagiba, Chorão estava morto
desde, pelo menos, o meio-dia de terça-feira.
O delegado contou que, na última semana,
Chorão se hospedou em quatro hotéis
diferentes da capital paulista. Na última
hospedagem, ele se desentendeu com
funcionários do local.
O delegado afirmou ainda que Chorão
acreditava que estava sendo perseguido. "Ele
chegava em casa quebrando tudo, por isso a
bagunça [no apartamento]".
Para o delegado, a hipótese de suicídio deve
ser descartada. "Chorão tinha planos, não
tinha esse perfil", contou o delegado. Ele
acredita que o caso foi uma fatalidade e
relacionar com overdose de drogas, neste
momento, também seria "leviano".
Biografia
Chorão -- batizado de Alexandre Magno Abrão
-- formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade
de Santos, no litoral de São Paulo, na década
de 1990. Ele era o único integrante que
permaneceu durante todas as fases do grupo,
lançando nove discos de estúdio, dois álbuns
ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu
mais de 5 milhões de discos e, em 2009,
ganhou um Grammy Latino com o álbum
"Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".
O último registro da banda é o disco ao vivo
"Música Popular Caiçara", que saiu no ano
passado e marcou a volta dos integrantes
Marcão e Champignon à banda, que haviam
deixado o grupo em 2005. A banda estava de
férias e o retorno seria durante um show no
próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de
Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6
abril, em São Paulo também já estava
marcado.
A vida pública de Chorão foi marcada por
uma série de desentendimentos entre os
integrantes da banda e com outros músicos,
como a conhecida briga com Marcelo Camelo,
integrante do Los Hermanos, em 2007.
Chorão agrediu o cantor na sala de
desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi
detido pela Polícia Federal.
Além da carreira musical, Chorão também
escreveu roteiros, como do filme "O
Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo,
e do longa "O Cobrador", que ainda está em
produção. Ele também era dono do Chorão
Skate Park, em Santos, uma pista de skate
indoor.
Casado há 15 anos com a estilista Graziela
Gonçalves, Chorão havia se separado dela em
meados de novembro de 2012, mas o casal
ainda não tinham oficializado o divórcio. Ele
deixa um filho, Alexandre, de 23 anos, fruto
da relação com sua primeira mulher, Thais
Lima.
Repercussão
Ao saber da morte de Chorão, amigos e
colegas do universo musical lembraram de
seus últimos contatos com ele, sempre
destacando sua personalidade explosiva e
obstinada. Champignon, baixista da banda
Charlie Brown Jr., disse que, apesar das
desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A
gente tinha uma relação profissional. Apesar
das muitas brigas, éramos amigos há mais de
20 anos", falou.
"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem
por dentro, tinha essa rebeldia que o cara
novo gosta", destacou o produtor Rick
Bonadio, que lançou o álbum de estreia do
Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a
falar com o músico recentemente para
mostrar novas faixas.
O jornalista José Julio Espírito Santo, que
trabalhava na gravadora Virgin na época do
primeiro disco, lembrou que, apesar de ser
"uma pessoa muito amável em certos
momentos", o músico parecia sofrer de "um
transtorno bipolar sério, e que talvez nunca
tenha tratado". "Ele tinha uma relação de
amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da
Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído
disso e ele sempre se fechava na minha sala
para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir
uns discos."
Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e
diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha
uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser
verdadeiro, amava música e sabia o que
queria. Era preciso ter sensibilidade para
entender o jeito dele".
Uma das últimas pessoas a ter contato com
Chorão, o radialista Tatola da UOL 89 FM,
recebeu uma visita surpresa do cantor no dia
28 de fevereiro, nos estúdios da rádio
paulistana. Durante o programa "Quem Não
Faz, Toma", o cantor levou uma música
inédita, intitulada "Meu Novo Mundo". Fora
do ar, ele contou que estava muito abalado
por causa da separação. "O apartamento
estava bagunçado porque ele estava
reformando e vivia fazendo festas. Não tinha
nada de briga. Ele estava triste e se enfiou
onde não devia se enfiar."
Pelas redes sociais, diversas personalidades
lamentaram a morte de Chorão, entre elas o
apresentador Luciano Huck, a ministra da
Cultura, Marta Suplicy, a apresentadora Ana
Hickmann e os ídolos da torcida do Santos
Neymar e Robinho.
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