terça-feira, 12 de março de 2013

Delegado derruba álibi com prostituta e diz não ter "dúvida nenhuma" da culpa de Mizael

O delegado Antonio Assunção de Olim,
responsável pela investigação do caso Mércia
Nakashima, derrubou a tese do ex-policial
militar Mizael Bispo de Souza de que teria se
encontrado com uma prostituta no momento
em que a advogada era assassinada em Nazaré
Paulista (Grande SP).
Olim também detalhou as relações entre
Mizael e Evandro Bezerra da Silva, acusado de
ter buscado o ex-PM do local do crime, e
disse estar convicto da culpa do réu. "Eu não
tenho dúvida nenhuma de que Mizael matou a
Mércia", declarou.
O delegado foi a primeira testemunha ouvida
no Fórum de Guarulhos, nesta terça-feira
(12), segundo dia do julgamento de Mizael,
acusado de ter assassinado sua ex-namorada
Mércia Nakashima, em 2010.
Mizael alega que, em 23 de maio de 2010, dia
do crime, no momento em que Mércia foi
morta, esteve por quatro horas com uma
prostituta, dentro de um carro, em frente ao
Hospital Geral de Guarulhos.
"O réu diz que em dois ou três minutos
conseguiu pegar essa mulher. O rastreador
não aponta esta parada. O local não é ponto
de prostituição e não tem ponto de ônibus. É
uma via de acesso ao aeroporto, com muito
movimento", afirmou Olim.
Mizael diz que teve relações sexuais com a
prostituta dentro do carro.
"Ele não sabia o nome da mulher e, só depois
de muita pressão, lembrou a cor do cabelo.
Depois deu apenas R$ 20. Além do que, é
estranho transar em um lugar de tanto
movimento, sem chamar a atenção", disse o
delegado.

O vigia Evandro Bezerra da Silva começou a
ser investigado quando o carro de Mércia foi
encontrado.
Segundo o delegado, Mizael se encontrou com
Evandro por mais de 20 vezes, no posto de
gasolina onde o vigia trabalhava. Além disso,
no dia 23 de maio ambos conversaram por 16
vezes pelo telefone.
Para falar com Evandro, Mizael usou um
telefone "frio" que não havia sido declinado
em uma lista para a polícia.
Era um telefone frio usado só para falar com
Evandro porque ele já estava planejando
matar a Mércia", afirmou Olim.
No mesmo dia, às 21h21, Mizael usou o
mesmo celular para conversar com a fiha
usando uma antena localizada na rua Antonio
Tava, próxima ao acesso para Nazaré Paulista,
cidade onde o corpo de Mércia foi
encontrado.
Evandro teria buscado Mizael do lugar do
crime. O ex-PM também teria largado o
próprio carro no Hospital para subir no
veículo do vigia.
O vigia tem irmãos que moram na região da
represa de Nazaré Paulista e é bastante
conhecido na área.
Olim também disse que após o crime, o vigia
fugiu para Canindé, em Sergipe, onde, após
algum tempo foi encontrado e preso. Já em
Aracaju, Evandro deu detalhes sobre o dia do
crime.
"Posteriormente, após ter falado com seus
advogados, o Evandro disse ter sido
torturado. Eu gravei o depoimento, ele estava
calmo e não tinha marcas de agressão", disse
Olim.
O depoimento do delegado foi o primeiro
com a presença de Mizael no plenário. O réu,
que é advogado, está sentado ao lado de seus
defensores e fica a maior parte do tempo com
a cabeça baixa, escrevendo em um papel.
Os irmãos e o pai e Mizael também estão
presentes. Da família de Mércia, estão no
plenário o pai e a mãe da vítima.
De acordo com o policial, "o quebra-cabeça"
sobre a versão de Bispo começou a ser
montado a partir da análise do percurso feito
pelo réu, que, ainda segundo Olim, "não
correspondia ao que ele disse [ter feito] em
depoimento no dia 23 [de maio, data do
crime]".
Expectativa para 2º dia de depoimentos
Nesta terça-feira, segundo dia do julgamento
do ex-PM, a expectativa é que todas as
testemunhas que faltam consigam depor no
Fórum de Guarulhos.
Depois de apresentar provas de que no sapato
de Mizael havia uma alga existente na represa
de Nazaré Paulista, onde o corpo de Mércia
foi encontrado, e de que o lugar onde o ex-
PM disse estar no dia do crime não bate com
os locais indicados pela antena do celular
usado por ele, a acusação pretende apresentar
mais evidências.
No primeiro dia do julgamento, que
aconteceu nesta segunda-feira (11), somente
três testemunhas da acusação foram ouvidas:
o irmão de Mércia Nakashima, Márcio
Nakashima, o biólogo Carlos Eduardo de
Mattos Bicudo e o engenheiro Eduardo
Amato.
"Vamos explorar também que havia indícios
de sangue, fragmentos ósseos e de metal de
munição no calçado de Mizael. Além disso,
vamos provar que ele estava no local do
crime", disse o assistente de acusação
Alexandre de Sá Domingues.
Ainda falta ouvir uma testemunhas da
acusação: o advogado Arles Gonçalves Júnior.
Também irão depor as testemunhas de defesa
Renato Pattoli, perito da Polícia Técnico-
Científica, o fotógrafo Eduardo Zocchi, o
investigador Alexandre Simoni Silva, e o
perito particular Osvaldo Negrini, além de
Rita Maria de Souza, amiga de Mizael.
O juiz também convocou o perito da polícia
Hélio Ramacciotti como testemunha.
Para o advogado, o primeiro dia de
julgamento serviu para "jogar uma pedra de
cal na tese de que Mizael estava na noite do
crime com uma prostituta em frente ao
Hospital Geral de Guarulhos. "Derrubamos
uma mentira e derrubaremos outras ",
prometeu.
O promotor Rodrigo Martins Antunes se
irritou com a tática da defesa de fazer muitas
perguntas para as testemunhas. Para ele,
trata-se de uma estratégia para causar
cansaço em quem está depondo e também nos
jurados. "Vou precisar tomar um calmante
agora à noite. Mas é difícil se acalmar com
uma defesa dessas", brincou.
O júri é formado por cinco mulheres e dois
homens e, pela primeira vez na história do
Judiciário brasileiro, é transmitido ao vivo por
rádio, televisão e internet.
Testemunhas do 1º dia de júri
Em quase quatro horas de depoimento,
Márcio Nakashima, irmão de Mércia, chorou,
discutiu com o advogado de Mizael Bispo e
acusou o réu de ter se "transformado" no
segundo ano de namoro com a
advogada. Márcio foi a primeira testemunha
ouvida no julgamento, que pode durar de
quatro a cinco dias.
Segundo o irmão da vítima, a partir do
segundo ano do relacionamento de sua irmã,
Mizael "se transformou". "Mizael era muito
ciumento, possessivo e se transformou. Ele
ligava várias vezes para a Mercia", afirmou.
A segunda testemunha ouvida foi o biólogo
Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, que
confirmou em depoimento que a alga
encontrada no sapato do réu também pode
ser encontrada na represa de Nazaré Paulista,
onde o carro e o corpo da vítima foram
achados.
De acordo com Bicudo, essa alga vive em
profundidades de 20 a 50 cm e exige um
substrato para se fixar. No caso de Mizael, o
substrato também foi encontrado no sapato
do réu. O especialista também confirmou que
o sapato de Mizael precisou ter entrado na
água para conter a alga.
O engenheiro eletricista e mestre em
telecomunicações Eduardo Amato Tolezani foi
a terceira testemunha ouvida nesta segunda-
feira. O especialista foi convocado pela
acusação. Tolezani fez uma análise, a pedido
da promotoria, de duas ligações de celular
feitas por Mizael, no dia 23 de maio de 2010,
dia da morte de Mércia. No momento das
chamadas, o réu dizia estar em um carro, em
frente ao Hospital Geral de Guarulhos.
Segundo a operadora do celular de Mizael, as
ligações foram feitas utilizando as antenas (ou
ERBs, sigla para estação rádio base) da rua
Antonio Tava e da rua Santa Margarida, ambas
em Guarulhos. Em relação à rua Antonio Tava,
seria impossível usar a antena do local
estando na frente do Hospital Geral de
Guarulhos, distante 10 km da antena, como
aponta o GPS do rastreador do carro de
Mizael.
Já em relação à rua Santa Margarida, há, para
a operadora, uma probabilidade tão remota
de se estabelecer uma ligação, que a
possibilidade é considerada nula. O local fica
a 6,8 km de distância do Hospital Geral de
Guarulhos.
Tolezani não permitiu que seu depoimento
fosse transmitido ao vivo seja por imagem ou
por som. Além disso, antes de suas
explicações, contou que estudou no mesmo
colégio que o promotor Rodrigo Merli
Antunes, há cerca de 20 anos, mas que não
tem uma "amizade íntima" com ele.
As três testemunhas ouvidas não permitiram a
presença de Mizael no plenário.

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