quarta-feira, 20 de março de 2013

Para evitar ataques, Piauí concede regalias a presos do PCC no Estado

A Sejus (Secretaria do Estado da Justiça) do
Piauí concedeu regalias para presos ligados ao
PCC (Primeiro Comando da Capital), facção
que age dentro e fora dos presídios de São
Paulo, que estão na Penitenciária Regional
Irmão Guido, localizada na zona rural de
Teresina. Durante um motim no ano passado,
a facção ameaçava desencadear uma série de
ataques similares aos ocorridos em São Paulo
e Santa Catarina, no final de 2012, caso os
pedidos de seus membros não fossem
atendidos.
A negociação --que previa a inclusão de carne
de sol, ervilha, milho e azeitona no cardápio
das refeições, aumento do horário de visitas e
transferência para São Paulo do cabeça do
movimento e um dos líderes do PCC, José
Ivaldo Celestino dos Santos-- ocorreu durante
motim ocorrido no final do ano passado e é
confirmada pelo secretário estadual de
Justiça, Henrique Rebello.

meia-
hora após atender aos pedidos dos detentos
da facção criminosa, o motim na cadeia
terminou. "Esse pessoal [do PCC] é
superperigoso. Não podíamos deixar que o
problema de dentro do sistema atingisse a
sociedade. Por isso, atendemos às
reivindicações", disse Rebello, destacando que
cumpriu o que diz a lei e não "fez nada de
mais" em atender às reivindicações dos
presos.
Carta e articulação
Durante a rebelião, presos do PCC tentaram
convocar os internos de outros pavilhões por
meio de uma carta. No entanto, o serviço de
inteligência da polícia conseguiu interceptar a
mensagem --a carta foi jogada do pavilhão C
para o anexo (local onde ficam os presos
provisórios).
Na carta, os integrantes do PCC tentavam
informar aos demais internos como seriam as
ações de articulação para que o Estado
atendesse aos pedidos deles. Em um dos
trechos, os presos afirmaram que
conseguiram tirar o chefe de disciplina da
unidade carcerária, para demonstrar o poder
que tinham nas negociações com a Sejus.
"A rapaziada da Casa de Custódia entrou em
contato com nós [sic] e disse que eles
conseguiram tirar o 'Nissin' [Nilson Martins de
Vasconcelos, ex-chefe de disciplina da Casa de
Custódia], e assim só nós se unir [sic] que nós
vamos conseguir nosso objetivo", descreve a
carta.
Estrangeiros no PCC
Apesar de o principal líder do PCC no
Nordeste, Celestino dos Santos, ter sido
transferido para São Paulo, existem ainda no
sistema prisional do Piauí outros cinco
membros do PCC --dois italianos, dois
brasileiros e um português.

Os detentos estão no pavilhão A da Irmão
Guido presos na mesma cela ou em celas
vizinhas. Eles foram flagrados pela PF (Polícia
Federal) em um veleiro com carga de 270
quilos de cocaína pura que iria para Europa.
Sindicato critica ações
O Sinpoljuspi (Sindicato dos Agentes
Penitenciários e Servidores Administrativos da
Secretaria de Justiça e Segurança do Estado
do Piauí) criticou a postura do Estado.
A decisão, diz o Sinpoljuspi, de atender aos
pedidos dos presos do PCC com o objetivo de
acabar com o motim e evitar possíveis
ataques foi equivocada. De acordo com o
sindicato, a iniciativa tornou os agente
penintenciários mais vulneráveis.
"Eles conseguem usar telefones celulares sem
que nenhum dos agentes ou policiais militares
encontre o aparelho. Se estão presos juntos,
facilita a atuação em conjunto, mas é por
celulares que eles se articulam para praticar
crimes fora da prisão", disse o presidente do
Sinpoljuspi, Vilobaldo Carvalho.
Foi um dos integrantes do PCC que usou um
telefone celular de dentro da Penitenciaria
Irmão Guido para avisar a advogada e
familiares que estava prestes a ocorrer uma
rebelião na unidade prisional.
Segundo Carvalho, a Sejus atendeu aos
pedidos "do jeito que o Celestino disse e
esticou o horário de visitas, tirando a rotina
dos presídios, além de colocar no cardápio
dos presos carne de sol, ervilha, milho e
azeitona".
"O medo do Estado com o PCC é tão grande,
que logo atenderam às reivindicações dos
líderes dos movimentos. Não tinha
necessidade de ceder porque não havia refém,
e a polícia estava quase dominando a
situação. Os rebelados estavam trancados em
uma área, que estava cercada de policiais.
Não justifica a atitude da Sejus. Isso mostra a
fragilidade do sistema", afirmou o sindicalista.

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