terça-feira, 12 de março de 2013

Professor mata a mulher e ganha pensão por morte em São Paulo

Com riqueza de detalhes, o professor de
matemática Claudemir Nogueira mostrou à
polícia em 2010 como enforcou a mulher
com um fio, dentro de casa, em bairro de
classe média na zona sul de São Paulo, um
ano antes.
À Justiça, manteve o relato. Também admitiu
o crime a peritos do governo estadual.
Apesar das confissões a diferentes braços do
poder público, Nogueira, 48, recebe
mensalmente pensão do INSS pela morte da
mulher, que ele assassinou. Só em 2010,
foram R$ 19 mil, segundo documentos
obtidos pela Folha.
Nogueira também continua recebendo os
vencimentos por ser professor da rede
estadual, no valor de R$ 2.509 ao mês.
Atualmente, ele trabalha em atividades
burocráticas da pasta, após ter sido afastado
das salas de aula.
"Você consegue imaginar a nossa revolta?",
afirmou Samiha Tauil, tia da vítima, a
fisioterapeuta do Sesi Mônica El Khouri, que
tinha 37 anos quando foi assassinada.
"Ele matou a Mônica, confessou em várias
instâncias e está nessa situação confortável,
com pensão e salário do Estado", disse
Samiha.
Segundo a Promotoria, Nogueira matou a
mulher porque havia sacado todo o dinheiro
dela. Já o professor disse à Justiça que ele
perdeu o controle após discussão.
Até o momento, Nogueira não ficou nenhum
dia preso, pois não possui antecedentes e não
oferece mais risco às investigações, avalia a
Justiça.
Ele ainda não foi julgado porque a defesa
entrou com pedido para tentar tirar o caso
do Tribunal do Júri.
Uma das lutas da família da vítima hoje é
cancelar a pensão dada a Nogueira e
transferi-la para a mãe de Mônica.
O Ministério da Previdência Social,
responsável pelo INSS, e o próprio instituto
foram avisados pelos familiares da
fisioterapeuta ao menos quatro vezes sobre a
situação.
O primeiro protocolo foi feito há mais de dois
anos --sem resposta até hoje.
À reportagem, o INSS não explicou o porquê
de a pensão estar mantida. O Estado disse que
o docente responde processo disciplinar,
"com amplo direito de defesa".
Nogueira admitiu o crime também a três
médicos peritos do governo estadual.
As declarações foram dadas quando ele pediu
licenças, dizendo estar abalado com o crime.
Os afastamentos foram aceitos, mas a
informação não foi repassada a outras
instâncias à época.
A defesa de Nogueira não quis se manifestar à
reportagem sobre a situação dele.
Para Marcus Orione, pesquisador da USP em
direito previdenciário, o fato de o réu não ter
sido condenado o beneficia, ainda que ele
tenha confessado o crime.
"Um problema aí é a lentidão da Justiça. Se
ele já tivesse sido condenado, por crime de
2009, provavelmente já teria perdido os
benefícios."

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