segunda-feira, 25 de março de 2013

Empresário quer fazer reality show de US$ 6 bilhões em Marte até 2023

Quando Bas Lansdorp começou a sonhar há
mais de uma década em fundar a primeira
colônia humana permanente em Marte, seu
enfoque principal não foi superar os desafios
tecnológicos. Foi o modelo empresarial. "Toda
a tecnologia de que precisamos já existe --ou
quase", disse. "Eu simplesmente não
conseguia imaginar como financiar a coisa."
Lansdorp, um engenheiro e empresário
holandês de 36 anos, não tem a fama de
Dennis Tito, o financista americano que
anunciou em fevereiro um plano para enviar
duas pessoas em um sobrevoo a Marte em
2018.
Lansdorp também não pode se comparar à
riqueza de Elon Musk, o bilionário fundador
da SpaceX e da Tesla Motors, que propôs
enviar até 80 mil pessoas ao planeta vermelho
e cobrar US$ 500 mil de cada uma.
Mas Lansdorp está convencido de que
encontrou o plano perfeito para levantar os
US$ 6 bilhões que diz precisar para pousar
uma primeira equipe de quatro pessoas na
superfície de Marte até 2023. A missão seria
transmitida como um programa de reality
show para todo o mundo e duraria vários
anos.
"Quantas pessoas você acha que desejariam
ser os primeiros seres humanos a chegar a
Marte?", perguntou Lansdorp, em uma
entrevista, lembrando que mais de 600
milhões de espectadores disseram ter
sintonizado os primeiros passos de Neil
Armstrong na Lua em 1969.
"Estamos falando em criar um grande
espetáculo de mídia, muito maior que os
pousos na Lua ou os Jogos Olímpicos, com um
enorme potencial de receita originária de
direitos de transmissão e patrocínios", diz.
Lansdorp será o produtor-executivo, não um
ator: ele não pretende fazer a viagem. Apesar
do significativo ceticismo que seu plano
despertou, ele cita seu sucesso em fundar e
atrair financiamento para a companhia de
energia eólica Ampyx Power --uma empresa
que tenta usar aviões sem piloto e de curto
alcance para gerar eletricidade-- como
evidência de que pode transformar ideias
amplas em realidades financeiramente viáveis.
O engenheiro não quis dizer quanto ganhou
vendendo sua participação na Ampyx, mas
disse que não precisaria trabalhar durante
vários anos, pelo menos.
Com dez anos para selecionar e preparar sua
primeira equipe, o projeto, chamado Mars
One ("Marte Um"), espera começar o
recrutamento de astronautas on-line neste
outono. O candidato deve ter pelo menos 18
anos, ser fisicamente apto, falar inglês e estar
disposto a superar o processo de seleção e
um programa de treinamento de oito anos sob
o olhar constante de uma câmera.
Não é necessário possuir habilidades técnicas
específicas ou experiência, mas não esqueça
de ler as letras miúdas do contrato: por
motivos de recursos e de logística, essa é uma
viagem só de ida.
PRIMEIROS PASSOS
No mês passado, o Mars One conseguiu seus
primeiros investidores externos, e esses
fundos serão usados para financiar os estudos
do projeto conceitual da espaçonave, de um
módulo de pouso, dos sistemas de suporte à
vida, dos veículos de suprimento e dos
sistemas de comunicação.
O site recebeu 1,7 milhão de visitantes únicos
desde que foi ao ar, em junho passado,
segundo o Google Analytics. Mais de 8.000
pessoas de mais de cem países já enviaram
seus currículos por e-mail desde que o
recrutamento on-line começou, em janeiro.
Lansdorp montou o Mars One como uma
fundação sem fins lucrativos, mas ela é a
acionista majoritária de uma companhia
comercial, a Interplanetary Media Group, que
possui os direitos exclusivos de venda das
transmissões de televisão e de publicidade.
CETICISMO E CRENÇA
Ainda assim, nem todo mundo está
convencido de que o projeto irá decolar. "A
ideia de voar para Marte sem retorno não é
tão absurda quanto pode parecer", disse
Robert Zubrin, ex-presidente da Sociedade
Espacial Nacional dos Estados Unidos. "Mas eu
sou muito cético de que ela possa ser
financiada por receitas de televisão."
Peter Mejer, diretor operacional da unidade
holandesa da Trifork, um desenvolver de
software baseado em Copenhague, disse que
sua empresa --que também está fornecendo
tecnologia de hospedagem na web e de rede
para o Mars One-- concordou em investir
uma soma não revelada. "Para nós é uma
oportunidade não apenas de uma perspectiva
tecnológica, mas também de marketing e de
exposição da nossa marca."
PROCESSO DE SELEÇÃO
O grupo de candidatos será reduzido para
algumas centenas até 2014, momento em que
o Mars One espera começar a transmitir o
processo por televisão em países escolhidos.
Junwie Cheng, que se candidatou para a
missão a Marte, é um importador de metais
de 26 anos de Taiyuan, uma cidade de 4
milhões de habitantes no nordeste da China.
Ele admite que não é do tipo que aprecia
muita gente, mas diz que está habituado a
viver em locais lotados. "Às vezes, quando
pego o metrô ou o ônibus, não encontro
lugar para pôr meus pés."

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