quarta-feira, 13 de março de 2013

Novo papa já foi acusado de cumplicidade com crimes da ditadura argentina

Recém-eleito papa, o argentino Jorge Mario
Bergoglio é acusado de ter sido cúmplice de
crimes cometidos pela ditadura cívico-militar
de seu país (1976-1983). Arcebispo de Buenos
Aires, o cardeal chegou a ser convocado para
testemunhar em julgamento sobre a
desaparição de sacerdotes durante os anos de
terrorismo de Estado.
Em 2011, durante as audiências do processo
sobre o plano sistemático de roubo de bebês -
nascidos em prisões clandestinas, durante a
ditadura, e adotados ilegalmente por outras
famílias, em sua maioria próximas a
autoridades militares –, Bergoglio chegou a
ser citado para declarar, após testemunhas
apontarem que ele estava ciente deste tipo de
crime.
"Como é que o Bergoglio diz que só sabe do
roubo de bebês há 10 anos?", questionou em
uma audiência Estela de la Cuadra, que
apresentou ao tribunal cartas de seu pai ao
arcebispo, agora papa, nos quais pedia que
este intercedesse na procura por sua filha
desaparecida, e de sua neta, que nasceu em
um centro clandestino de prisão e tortura da
ditadura.
Segundo o depoimento de Alicia De la Cuadra,
primeira presidente da Associação Avós da
Praça de Maio, durante a busca por sua neta,
Bergoglio teria dado a ela uma carta na qual
dizia que o bispo argentino Mario Piqui
intercederia no caso. Após o contato com
autoridades policiais, no entanto, o bispo
teria afirmado ao casal que a criança estaria
vivendo com um "bom casal" e que a suposta
adoção já não tinha "volta atrás".
Além dos indícios de cumplicidade no
esquema de roubo e apropriação ilegal de
menores, Bergoglio deveria declarar acerca da
morte de religiosos durante a repressão, o
que foi realizado por meio da visita de juiz à
casa do religioso, condição prevista no Código
Penal argentino para autoridades religiosas.
Em entrevista à televisão pública argentina, o
jornalista Horacio Verbitsky, que publicou
diversos livros com temáticas relacionadas
com a ditadura argentina e com a Igreja
Católica, afirma que, em audiência ante os
tribunais, Bergoglio negou informações
concedidas a ele em uma entrevista.
"Tenho detalhes de uma ilha chamada El
Silencio, no [delta do] Tigre, que foi vendida
pelo episcopado argentino para a Marinha,
para servir como centro clandestino de
prisão. Mas isso foi negado pelo cardeal
perante os juízes", afirmou o jornalista. "[Ele]
negou fatos que eu tenho claramente
documentados", disse Verbistky.
Além disso, Bergoglio foi acusado pelas Mães
da Praça de Maio de ter facilitado o sequestro
dos sacerdotes jesuítas Francisco Jalics e
Orlando Yorio. A versão é corroborada por
Verbistky: "[Ele] era chefe da Companhia de
Jesus, às quais eles pertenciam, mas em vez
de protegê-los, lhes tirou a proteção
eclesiástica e poucos dias depois foram
sequestrados".
"Ele os denunciou por estarem vinculados
com a subversão e de terem desobedecido
seus superiores hierárquicos", continuou o
jornalista, afirmando que a informação estava
documentada na chancelaria argentina.
Em audiência sobre crimes cometidos na
Escola de Mecânica da Marinha (Esma), centro
de detenção clandestino da ditadura, a ex-
presa e desaparecida María Elena Funes
relatou que o arcebispo de Buenos Aires tinha
proibido um dos jesuítas de atuar como padre
na região de Bajo Flores, no sul da capital
argentina, por razões ideológicas.
Berglogio foi denunciado pela primeira vez
por cumplicidade com crimes da ditadura em
1986, no livro Igreja e Ditadura, escrito por
Emilio Mignone, autor defensor dos direitos
humanos que teve sua filha desaparecida.
*Com informações dos jornais Página 12 e
Tiempo Argentino

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