Menos de um mês após o início do ano letivo,
São Paulo já está chamando professores
temporários reprovados em processo seletivo.
É a quarta vez que são convocados, desde que
a prova começou a ser aplicada, em 2009.
No Estado, há 39 mil reprovados nas escolas
ou esperando convocação. Para o governo, os
"reprovados" agora são chamados de
"classificados".
Os temporários substituem os profissionais
afastados --em licença, por exemplo-- ou
assumem aulas que ainda estão vagas ao longo
do ano.
Inicialmente, o governo dizia que o exame era
eliminatório e só poderiam dar aulas aqueles
que obtivessem índice igual ou superior a 40
pontos --metade das 80 questões.
Agora, a Secretaria da Educação afirma que o
teste, aplicado ao fim de cada ano, é apenas
"classificatório" e a contratação está prevista
em lei.
O termo "reprovado", porém, é usado pelas
diretorias de ensino nos comunicados sobre
atribuição de aulas, aos quais a Folha teve
acesso.
Ao todo, 138,9 mil candidatos participaram
do processo seletivo para professor
temporário no final de 2012. Destes, 39,3 mil
não acertaram nem a metade das questões --
quase um em cada três.
A secretaria não divulgou o número de
reprovados que poderão atuar neste ano
porque o processo de atribuição de aulas está
em andamento. Na prática, todos estão aptos.
FORMAÇÃO
Para a coordenadora do curso de pedagogia
da Unicamp, Maria Márcia Malavasi, o
aprendizado dos alunos pode ser prejudicado.
"Um professor que tem deficit de 50% do
conteúdo da prova é uma situação grave", diz.
"A pergunta é: por que esses professores
foram tão mal formados a ponto de errarem
50% das questões?"
Segundo ela, é preciso avaliar se a prova é
adequada ao conteúdo ministrado pelo
professor e investir em políticas públicas para
melhorar a formação dos docentes. "À medida
que o
Estado autoriza a existência de um professor
desqualificado é como se ele dissesse que está
tudo bem."
Já para a presidente da Apeoesp (sindicato de
professores), Maria Izabel Noronha, o Estado
precisa repensar o processo de avaliação.
"Quem faz a prova muitas vezes nem se
prepara porque sabe que vai ficar só um
ano", diz.
"É uma prova que em nada acrescenta,
porque não há excedente de professores, há
falta. E se há falta, tem que qualificar. Se todo
ano o Estado põe o que não é classificado,
por que desclassificar?"
O salário inicial dos docentes hoje é de R$
2.088,27, para 40 horas semanais.
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