quinta-feira, 2 de maio de 2013

Brasileiro troca cursinho por pôquer e fica milionário com 4h de trabalho

Há quatro anos, o estudante Gabriel Goffi,
então com 18 anos, foi para Londres estudar
inglês com o objetivo de se aprimorar para
continuar os estudos no Brasil, tentar cursar
relações internacionais e se tornar um
diplomata.
Mas o período na capital inglesa acabou
servindo mais como reflexão para um novo
rumo que sua vida tomaria. Depois de alguns
anos nas mesas de pôquer como amador, o
jovem aproveitou o momento distante da
família para fazer uma análise de uma nova
oportunidade que o instigava e decidir o que
queria.
Ele voltou ao país disposto e confiante de que
poderia ter sucesso nas mesas e viver única e
exclusivamente do mundo das cartas, com o
pôquer. “Meu primeiro contato foi quando
tinha 17 anos. Fui apresentado por amigos de
escola, tinha reuniões semanais pra tomar
cerveja, algo de diversão. Vi que aquilo não era
só um jogo de sorte, mas que era necessário
ter habilidade. Comecei a pesquisar e ver que
poderia colocar meu lado competitivo e de
estratégia. Estudei isso”, falou.
“Em Londres, não tinha pressão dos pais e fui
estudar o jogo. Tive um ano pra solidificar o
pensamento. Quando voltei, tinha 19 anos e fui
fazer cursinho. Mas no final daquele ano decidi
virar profissional. Eu tinha a ideia de ser
diplomata, mas não era aquele sonho fixo.
Minha rotina virou do avesso. Antes, apostas de
R$ 100 pra mim era muito. Aí fui numa case de
pôquer e joguei R$ 1.000. Queria respirar
aquilo. Pensei: Pra quê vou fazer cursinho?”,
afirmou ao lembrar o período que começou a
se dar bem.
Depois de alguns meses, Gabriel convenceu os
pais de que a ideia de abortar os estudos era
válida pelo futuro que se desenhava. No
começo, foi pedido pela família que estudasse
paralelamente. Mas, depois, com o sucesso e
qualidade demonstrada, passou a se dedicar
exclusivamente ao jogo. “Meus pais são
tradicionalistas. Minha mãe era conservadora,
mas acreditava em mim. Eles falaram que tudo
bem, mas que eu tinha que fazer faculdade. Só
que depois de seis meses esse assunto [de
continuar o estudo] não existia mais.”
Gabriel então virou um fenômeno mundial do
cash game do pôquer estilo Ohama e conseguiu
ficar milionário com suas aptidões para o jogo.
É também profissional de Texas Holdem, outra
modalidade do jogo de cartas. Participa de
jogos ao vivo e online, onde consegue mais
destaque. É atualmente o único jogador do país
que encara as mesas mais caras do mundo
virtual.
"A diferença do cash é que não temos horário.
Se eu quiser terminar essa conversa e jogar
duas horas, depois dou um break... o
profissional de torneio tem que seguir rotina
desgastante...começa 12h e vai jogar pelo
menos 8, 9 horas seguidas”.
Ressalta, no entanto, que o desgaste emocional
pode ser pior se a pessoa não estiver
preparada. “No cash é difícil ver profissionais
bem sucedidos porque pouquíssimos trabalham
o controle emocional da forma correta. Esse é
o fator mais importante num profissional de
pôquer.”
Goffi foi eleito melhor jogador do mundo pelo
conceituado site americano HighstakesDB entre
os jogadores que se arriscam em médios e altos
valores (Valores inicias a partir de US$ 1.000
em apostas). Em novembro do ano passado, o
site afirmou que o brasileiro tinha até então
lucros de US$ 713 mil.
“No pôquer brasileiro, ele é um dos mestres. É
um fenômeno absoluto, menino jovem, novo e
bem preparado, pronto pra fazer o que está
fazendo. Ele foi eleito o melhor jogador por um
site respeitado. Os feitos dele falam por ele
mesmo. Já é uma das vozes ativas no esporte
do país”, falou Igor “Federal” Trafane,
presidente da CBTH (Confederação Brasileira de
Texas Hold’Em).
Goffi diz que uma das principais qualidades que
o fizeram ter sucesso é não ser alguém que
perca o controle emocional facilmente. Prefere
não dizer o quanto já acumulou em prêmios, se
limitando a dizer que são milhões. Mas
enfatiza: pôquer não é só dinheiro e sorte. É
preparo e disciplina.
“As pessoas associam muito o pôquer ao
dinheiro, mas não é assim. Pôquer é disciplina
pra estudar, requer controle emocional. Ele é
bonito, mas não é só dinheiro, te faz
amadurecer dez anos em dois porque você
precisa evoluir. O cara precisa ter disciplina,
controle emocional, frieza, e isso é o que os
brasileiros não têm e por isso não são bem
sucedidos. O brasileiro é muito emotivo.”
Ser um profissional do pôquer requer uma
preparação que não é baseada apenas na
questão psicológica e de raciocínio. Goffi
desmitifica a imagem “nerd” de um bom
jogador de cartas ao contar como funciona sua
rotina, que inclui atividades normais e que
demandam gasto de tempo corriqueiro, como
uso de redes sociais, academia e até leitura.
Contratou um estafe de pessoas para ajudá-lo a
lidar com a pressão. O treinamento e momento
podem ser menores do que muitos imaginam.
Ele só começa a pegar no batente mesmo por
volta das 16h da tarde, depois de um período
de vida “normal” que faz parte para o melhor
desenvolvimento do jogo.
“Eu acordo, faço esteira em jejum, tenho toda
uma dieta e plano de acordo. Acordo com uma
energia incrível e vontade de fazer muita coisa.
Começo o dia na esteira e lá começo a
responder e-mail, me planejar, vejo Facebook,
Instagram. Gosto muito de ler. Quando não
estou afim de redes sociais, começo a ler ao
invés de fazer isso", falou.
"Volto, tenho uma governanta que faz tudo.
Vou pra academia, volto 15h, almoço 15h30, aí
começo meu dia. Isso é para me sentir bem e
energizar meu dia. Faço ioga método DeRose,
lifeCoach, análise, mental coach, tudo isso
voltado para buscar estar entre os tops do
mundo. Planejo ainda fazer aikido, toco piano.
Apesar de ser minha fonte de renda, considero
o jogo meu hobby. Hoje em dia eu foco em
outras coisas.”
A rotina pode variar, é claro, de acordo com os
dias, semanas e desafios. Mas é comum que
seu dia no jogo dure apenas quatro horas. “Às
16h eu começo a procurar jogos que estejam
rolando e sento em uma mesa. Fico umas
quatro horas mais ou menos jogando. Meu dia
geralmente é das 16h às 20h em jogo. Fico
mais quatro horas mais ou menos jogando. E
paro para fazer alguma coisa depois.”
O presidente da CBTH exalta o estilo eclético da
revelação brasileira. “Ele tem estilo de via
peculiar, gosta de ioga, faz academia, tem
gostos refinados, eu diria. Gosta de teatro,
música clássica, bom vinho. Mas isso não tem a
ver com pôquer. Ele é um tipo refinado por
característica dele mesmo”, disse Igor Federal.

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