quinta-feira, 2 de maio de 2013

Erro de economistas invade a internet

Foi o primeiro escândalo acadêmico de
amplitude "viral" na internet. O estudo que se
transformou na principal justificativa para as
políticas de austeridade foi desacreditado por
um grupo de pesquisadores --entre eles, um
doutorando de apenas 28 anos.
Estudo foi justificativa para políticas de corte
de gastos
Análise: Controvérsia é simplista e pode levar
a ação equivocada
Autores dizem que debate sobre economia
tornou-se 'simplista'
Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin,
da Universidade de Massachusetts, mostraram
que o famoso estudo "Crescimento em uma
época de endividamento", dos economistas
Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, da
Universidade Harvard, tinha erros básicos
como problemas nas planilhas de Excel.
Em seu estudo, RR chegavam à conclusão de
que, quando o endividamento de um país
supera os 90% do PIB, a média de
crescimento cai para -0,1%. O resultado foi
usado por governos na União Europeia e pelos
EUA para justificar cortes no orçamento.
"Os métodos de análise de RR continham
erros significativos", disse à Folha Michael
Ash, um dos autores de Massachusetts.
Segundo ele, RR seletivamente excluíram os
dados de países que, embora muito
endividados após a Segunda Guerra Mundial,
cresceram a taxas altas, dados que iriam
enfraquecer muito as conclusões. Com um
erro nas planilhas de Excel, excluíram dados
importantes. E, na hora de considerar o peso
de cada país, usaram métodos questionáveis.
Feitas essas correções, os países com mais de
90% do PIB de endividamento tinham
crescimento médio de 2,2%, e não -0,1%.
Rogoff e Reinhart admitiram os erros, mas
afirmaram que eles não mudam a conclusão
principal do estudo, que relaciona
endividamento a menos crescimento.
TRABALHO DE CLASSE
Thomas Herndon, o doutorando de 28 anos,
descobriu os erros a partir de um trabalho de
classe em que os alunos precisavam replicar
os resultados de estudos famosos. Reinhart
enviou suas planilhas para Herndon, que
descobriu os erros.
O trabalho de RR, apesar de muito famoso,
nunca havia sido revisto por pares, e os
autores não haviam compartilhado os dados e
métodos de cálculo.
"Eles simplesmente não respondiam a e-mails
pedindo os métodos de cálculo", disse à Folha
o economista Dean Baker, diretor do Center
for Economic and Policy Research em
Washington.
"Se eles tivessem divulgado antes seus dados,
poderiam ter evitado os erros surpreendentes
que cometeram", disse Ash.
PIADAS
Rogoff e Reinhart se transformaram no
principal alvo dos críticos das políticas de
austeridade. "Nossa pesquisa, nossas
credenciais e até nossa integridade foram
atacadas furiosamente em jornais e na TV",
escreveram RR no "The New York Times".
Sem falar nas piadas.
"Se eles não conseguem nem usar o Excel,
duvido que saibam como anexar um arquivo a
um e-mail", brincou o humorista Stephen
Colbert. "Um erro de Excel destruiu as
economias do mundo ocidental?", brincou o
Nobel Paul Krugman em uma coluna.
O debacle de Reinhart-Rogoff foi apenas o
mais recente de uma série de erros de
economistas (veja arte ao lado). Um das gafes
mais famosas foi cometida por Irving Fisher.
Em 1929, pouco antes da quebra da Bolsa de
Nova York, ele afirmou: "As cotações das
ações atingiram um alto patamar
permanente."
Há os erros históricos.
Thomas Robert Malthus previu no século 18
que a população cresceria em progressão
geométrica, enquanto oferta de alimentos
aumentaria em progressão aritmética,
resultando em fome.
Nem a população manteve a progressão
geométrica, nem a oferta de comida cresceu
muito devagar. Malthus cometeu deslizes
básicos como não diferenciar o fluxo de
imigrantes da população nascida nos EUA.
No Brasil tampouco faltaram deslizes de
economistas.
Delfim Netto, ao deixar o Ministério da
Agricultura para tomar posse no Ministério do
Planejamento, em 1979, profetizou:
"Senhores, preparem seus arados e suas
máquinas: nós vamos crescer". Em 1980, o
PIB de fato avançou 9,2%. Mas encolheu
4,25% em 1981, ficou estagnado (0,83%) em
82 e voltou a cair (-2,93%) em 1983.
O ex-presidente do BC Gustavo Franco
cunhou uma pérola ao insistir que o câmbio
fixo estava no patamar certo e não se
sustentava apenas por causa da pesada
intervenção do governo: "Se há muita banana
e pouca procura, o preço da banana cai".
Com a desvalorização caótica do real em
1999, ficou claro que dólar não é banana.

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