segunda-feira, 11 de março de 2013

Duas empresas deixam construção do estádio de Cuiabá, e obra corre risco de não ficar pronta

As obras da Arena Pantanal, em Cuiabá,
correm risco de não ficarem prontas a tempo
da Copa do Mundo de 2014 após duas
construtoras que tocavam o projeto
abandonarem a empreitada, na semana
passada. Agora, a empreiteira responsável que
sobrou terá que triplicar sozinha o ritmo em
que segue atualmente a construção para
conseguir entregar o estádio dentro do prazo,
em outubro deste ano.
Beirando a falência, a construtora Santa
Bárbara Engenharia SA, líder do consórcio
Santa Bárbara-Mendes Júnior, responsável
pelo projeto, está deixando os trabalhos para
serem tocados apenas pela construtora
Mendes Júnior e suas subempreiteiras
contratadas. Uma delas, a responsável pela
montagem das estruturas metálicas do
estádio, deixou a obra após ter ficado oito
meses sem receber por seus trabalhos.
A saída da construtora líder do consórcio
ainda não foi anunciada. Tanto as empreiteiras
envolvidas quanto o governo do Estado de
Mato Grosso (que banca a obra) não negam
nem confirmam o abandono, dizem apenas
que a saída da Santa Bárbara não muda a
situação do contrato entre o poder público e
o consórcio. A informação, porém, foi
confirmada por membros da
Rede de Controle (grupo formado por
promotores, procuradores e membros de
tribunais de contas que acompanha as obras
da Copa), funcionários da obra e empreiteiros
que preferiram manter anonimato.
A conclusão da Arena Pantanal, a um custo de
R$ 519 milhões e prevista para outubro desde
ano, não será tarefa fácil. Desde que
começou, em maio de 2010, até o final de
fevereiro deste ano, a obra atingiu 62% de
conclusão. Ou seja, o avanço em 34 meses se
deu ao ritmo de 1,82% ao mês, em média.
Assim, para a empreitada ser levada a cabo
dentro do prazo, o ritmo dos trabalhos terá
que ser triplicado, e a construção deverá
andar a 5,48% ao mês em média.
A Arena Pantanal começou a ser construída
em maio de 2010 - a primeira entre todas as
12 que serão usadas na Copa do Mundo. A
previsão inicial era que ela estivesse concluída
em dezembro de 2012. Não ocorreu. Em
julho de 2012, o estádio tinha 46% de suas
obras concluídas. Naquele mês, o governo de
Mato Grosso assinou um aditivo ao contrato e
estendeu o prazo de entrega até outubro deste
ano.
O custo inicial previsto pelo governo de Mato
Grosso era de R$ 342 milhões. Atualmente,
está em R$ 519 milhões (aumento de 51%). A
assessoria de comunicação do consórcio
construtor, porém, informou que, em breve, um terceiro turno de trabalho
terá que ser criado para que a obra possa ser
entregue a tempo, o que significa uma nova
repactuação contratual, com mais um
aumento de custo.
Hoje, de acordo com o consórcio, cerca de
800 operários se revezam em dois turnos no
canteiro de construção do estádio. Apesar
disso, no momento
do encerramento de um turno de trabalho no
final da tarde do último sábado (9) e não
havia mais que 50 operários deixando a
construção. Além disso, operários disseram à
reportagem que os funcionários da Santa
Bárbara não trabalham mais no local.

Beirando a falência
Com problemas na Justiça e uma dívida de R$
543 milhões,a Santa Bárbara está em processo de
recuperação judicial e beira a falência. Além
disso, parte do dinheiro que entra no caixa da
empreiteira, depositado pelo governo estadual
de Mato Grosso para ser utilizado na Arena
Pantanal, segue outro caminho: o pagamento
de dívidas da Santa Bárbara com outros
credores.
Pesa sobre a Santa Bárbara uma série de
bloqueios de valores autorizados
judicialmente: a uma empresa chamada BK
Transportes e Serviços, a empreiteira deve R$
272 mil. Já à Topázio Inspeções tem R$ 908
mil a receber, enquanto outros R$ 5,24
milhões devem ser pagos à Mills Estruturas de
Serviços e Engenharia.
Dessa forma, recursos da Secopa-MT
(Secretaria Extraordinária para a Copa de
Mato Grosso) transferidos ao Consórcio Santa
Bárbara Mendes Júnior para pagar o estádio
são sequestrados pela Justiça desde o ano
passado, em agosto do ano passado. De
acordo com empresários do setor de
construção civil em Cuiabá, a saída da
construtora da empreitada é uma manobra
para que o dinheiro do governo de Mato
Grosso volte a ficar na obra e não vá para
cobrir dívidas anteriores da Santa Bárbara.
O Consórcio Santa Bárbara-Mendes Júnior não
se pronuncia sobre a situação.

Em
alguns locais do entorno do estádio, o terreno
ainda não foi sequer aplainado. A
superestrutura das arquibancadas é a única
parte pronta. A estrutura metálica que
envolverá todo o estádio não está na metade
e, na semana passada, causou a paralisação
das obras e virou caso de polícia.

Caso de polícia
A Loyman Assessoria e Montagem Industrial
Ltda, contratada pelo consórcio para montar
a estrutura metálica do estádio, retirou no
início da semana passada os seis guindastes e
os funcionários que mantinha no canteiro de
obras da Arena Pantanal. À imprensa
cuiabana, o dono da empresa, Ibê Loyola
Júnior, chegou a dizer que não aguentava
mais, pois estava havia mais de oito meses
sem receber pelo serviço prestado.
Esgotado financeira e emocionalmente, o
empresário decidiu tirar seus equipamentos
do canteiro, mas foi barrado pelos seguranças
da Santa Bárbara e da Mendes Júnior. A
polícia foi chamada e um boletim de
ocorrência foi lavrado. Os guindastes lá
permaneceram até que um distrato entre a
Loyman e o consórcio fosse assinado. O caso
mexeu com a saúde de Ibê Loyola Junior, que
deixou Cuiabá para um período de descanso
no interior do Rio Grande do Sul.
A Santa Bárbara e a Mendes Júnior negaram
que vinham atrasando pagamentos e ainda
colocaram toda a culpa na empresa que
abandonou a obra. "O Consórcio Santa
Bárbara/Mendes Júnior afirma que as
acusações de inadimplência feitas em desfavor
deste Consórcio pela empresa Loyman -
Assessoria e Assistência Técnica Ltda não
procedem e que, inclusive, a referida empresa
abandonou, de maneira injustificada, o
canteiro de obras, motivo pelo qual todas as
medidas legais cabíveis serão rigorosamente
adotadas por este Consórcio˜, disse, em nota,
o consórcio.
"O Consórcio esclarece ainda que a situação
gerada pela Loyman - Assessoria e Assistência
Técnica Ltda já foi contornada, sendo que um
novo fornecedor dará regular continuidade à
execução dos trabalhos˜. Apesar disso, até
domingo (10) a montagem da estrutura
metálica não havia sido retomada.

Questionada sobre o motivo da Santa Bárbara
deixar o consórcio, qual a parte que cabia à
construtora na obra, se haveria atraso na
entrega ou aumento de custo, a Secopa-MT,
através de sua assessoria de imprensa, foi
lacônica. "Informamos que não há nenhuma
alteração do contrato entre o consórcio
construtor da Arena Pantanal e a Secopa".

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