"Esse é o único argentino gente boa que eu
conheço". A frase é um bocado
preconceituosa com os "hermanos" - sempre
estereotipados pelos brasileiros - mas foi
ouvida inúmeras vezes durante estes quatro
anos que Santiago Ponzinibbio vive no Brasil.
Depois de comer o pão que o diabo amassou
dormindo no chão e apanhando muito dos
brasileños, o lutador vive o sonho de viver
do MMA e, com sua história de superação e
uma vitória suada, conquistou uma vaga nas
quartas de final do TUF Brasil 2 e a torcida de
muitos telespectadores.
No episódio do último domingo, ele mostrou
garra à la futebol argentino e, num combate
de idas e vindas, nocauteou Márcio Pedra
para avançar no reality show. Antes disso,
contou um pouco dos perrengues passados na
aventura de se tornar lutador.
"Estava morando na casa (pensão) de uma
mulher e de um dia para o outro ela me
colocou para fora, arrumou gente que pagava
mais. Conheci um cara em um restaurante
que falou: se você quiser dormir no chão da
cozinha, pode ficar. Passei 20 dias dormindo
no chão, acordava todo quebrado, ia treinar e
só apanhava. Chegava em casa de noite e só
se via as lágrimas", resumiu ele.
Santiago nasceu em La Plata, começou a lutar
aos 15 anos kickboxing e, quando ouviu falar
em MMA, descobriu o que queria da vida.
Mesmo com uma vida confortável na
Argentina, ele resolveu viajar ao Brasil para
afiar seu jiu-jítsu por um mês. Sem dinheiro e
sem apoio da família, ele resolveu ampliar seu
tempo de treinos e ficou.
Os perrengues foram muitos em Florianópolis,
onde mora até hoje, casado com a enfermeira
Rafaela Baptista. Por quatro meses ele morou
numa barraca na praia, onde durante o dia
fazia massagens. Também trabalhou como
ambulante, vendendo cerveja, sanduíches e
artesanato. E ainda teve de se virar como
garçom e barman. Tudo para poder tentar
seguir o sonho de chegar ao UFC.
"Quando vim para o Brasil, não sabia falar o
idioma e não conhecia nada por aqui. Na
praia, ao ver alguém com camisa de jiu-jitsu,
eu ia atrás e procurava saber aonde o cara
treinava", contou ele, ao site do UFC. Mal ele
sabia que, dentro da academia, começava
outra fase do sofrimento.
"Só tomava pau", relembrou. Em outro
episódio, descreveu: "Eu vim para treinar jiu-
jítsu, e no começo era: 'tem um argentino aí!
Pau no argentino!'. Era todo dia assim, até
verem que eu queria aprender, e ganhei meu
espaço".
A mulher, Rafaela, detalha o sofrimento: "Ele
conta que foi bem difícil mesmo. Hoje ele
conta essas histórias e chega a ser engraçado,
porque já passou. Mas era muito difícil. Ele
não tinha ninguém da família perto, não
entendia a língua, pegavam muito no pé...".
O casal se conheceu já quando Santiago
estava mais estabelecido como lutador, por
conta de amigos em comum. Rafaela, que
nunca tinha acompanhado lutas, admite que
estranhou.
"Eu nunca gostei de luta, não era uma coisa
que eu via. No começo tinha um certo
preconceito, me assustava e eu achava que
era uma profissão muito difícil. Hoje sei que é
como qualquer outra e que com muito treino
ele pode chegar onde quer", explicou ela.
Rafaela tenta estar sempre presente nas
pesagens e lutas, para dar seu apoio, mas
sofreu com o isolamento imposto pelo reality
show do UFC.
O que não a surpreendeu foi o fato de ele
conquistar o público. "Desde o começo, todo
o mundo que conhece o Santiago fala: 'nossa,
esse é único argentino gente boa que eu
conheço'. Já sabia que ele tinha esse carisma.
Ele não é aquele estereotipo de marrento, ele
é bem tranquilo, conversa com todo mundo e
tudo o que ele passa é muito verdadeiro. E,
como argentino, ele tem coração e nunca
desiste", explica ela.
Hoje, Santiago conta com o investimento do
empresário Osnildo Silveira em Florianópolis
e, depois de um bom tempo dando aulas para
se manter, pode se dedicar apenas ao seu
preparo para lutar MMA. A prova de todo
esse esforço será tirada no TUF, com apenas
três combates o separando do sonhado
contrato com o UFC.
Nada melhor para um lutador do que ter uma
enfermeira de prontidão. É o caso de
Santiago, já que sua mulher, Rafaela, trabalha
nesta profissão. "É verdade, às vezes preciso
fazer uns curativos ou levar para a
emergência", ri ela, acostumada a ver o
meio-médio voltar machucado de treinos.
Outro ponto que ela ainda terá de se
acostumar é o assédio, ainda mais se o
marido for mais longe no reality, atraindo
atenção da imprensa, de fãs e, claro, das
marias-tatame. "Acho q temos de estar
preparados para tudo o que vier, ter a cabeça
bem boa, inclusive a dele para administrar
tudo. Ontem era lutador de eventos
pequenos, hoje está em rede nacional,
ganhando respeito."
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