Após receber a notícia da morte do pai,
Alexandre, filho do cantor Chorão com a
primeira mulher, Thaís, alterna momentos de
raiva e calma, segundo Murilo, tio do rapaz
de 23 anos. O vocalista do Charlie Brown Jr.
foi encontrado morto aos 42 anos em seu
apartamento em São Paulo na madrugada
desta quarta-feira (6).
De acordo com o parente, Alexandre liga
constantemente para o celular de Chorão,
pedindo para que o pai atenda o telefone.
Estudante de cinema, Alexandre havia se
reproximado do pai recentemente e andava
filmando as apresentações da banda. "Estava
vivendo um momento muito bonito com o
pai", disse Murilo.
Velório e enterro
A previsão é de que o velório seja aberto ao
público no Ginásio Arena Santos a partir das
20h. Antes disso, apenas familiares e amigos
terão acesso ao local, que tem capacidade
para 5 mil pessoas, segundo informações da
Prefeitura de Santos. O enterro acontecerá no
Memorial Necrópole, cemitério particular
próximo à Arena, a partir das 17h de quinta-
feira
MAIS SOBRE CHORÃO
As circunstâncias da morte estão sob
investigação do DHPP (Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o
delegado Itagiba Franco, da Polícia
Divisionária do Departamento de Homicídios,
paramédicos encontraram o músico de bruços
no chão da cozinha, com um das mãos
machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O
apartamento que fica no oitavo andar estava
revirado, sujo e havia vestígios de sangue.
Bebidas e pó branco também foram
encontrados no local, mas o delegado não
confirmou se era droga. "Vamos colocar isso
no inquérito policial", disse. Trechos de um
boletim de ocorrência divulgado pela TV
Globo indicam que se tratava de "pequena
quantidade de substância branca que aparenta
ser cocaína".
Itagiba ainda falou à imprensa que ainda é
muito cedo para falar o que aconteceu. "Não
vou descartar nada, mas aparentemente não
se trata de homicídio. Ele parece ter se
debatido, por isso o sangue na mão".
O delegado afirmou ainda que o motorista e o
segurança do músico chamaram o Samu
(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)
por volta das 4h30 desta quarta, mas não se
sabe a hora da morte, já que Chorão não
atendia a porta nem o telefone desde o meio-
dia de terça-feira.
A apresentadora de TV Sonia Abrão, prima do
cantor, chegou ao prédio por volta das 8h
desta quarta e disse que Chorão estava com
problemas pessoais envolvendo o divórcio da
mulher, a estilista Graziela Gonçalves. "Ele
ainda gostava muito dela, não estava
conseguindo superar essa fase. Ele deve ter
tido uma crise de desespero forte e de
solidão. Ele não tinha noção que estava numa
situação de limite", disse a apresentadora.
Chorão e a mulher se separaram em meados
de novembro do ano passado.
Biografia
Chorão formou a banda Charlie Brown Jr. na
cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na
década de 1990. Ele era o único integrante
que permaneceu durante todas as fases do
grupo, lançando nove discos de estúdio, dois
álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo
vendeu mais de 5 milhões de discos e, em
2009, ganhou um Grammy Latino com o
álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".
O último registro da banda é o disco ao vivo
"Música Popular Caiçara", que saiu no ano
passado e marcou a volta dos integrantes
Marcão e Champignon à banda, que haviam
deixado o grupo em 2005. A banda estava de
férias e o retorno seria durante um show no
próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de
Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6
abril, em São Paulo também já estava
marcado. Em nota, a produtora de SP disse
que divulgará em breve informações sobre o
reembolso.
A vida pública de Chorão foi marcada por
uma série de desentendimentos entre os
integrantes da banda e entre outros músicos,
como a briga com Marcelo Camelo, integrante
do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o
cantor na sala de desembarque do Aeroporto
de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.
Além de músicas, Chorão também escreveu
roteiros, como do filme "O Magnata" (2007),
dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O
Cobrador", que ainda está em produção. Ele
também era dono do Chorão Skate Park, em
Santos, uma pista de skate indoor.
Repercussão
Ao saber da morte de Chorão, amigos e
colegas do universo musical lembraram de
seus últimos contatos com ele, sempre
destacando sua personalidade explosiva e
obstinada. Champignon, baixista da banda
Charlie Brown Jr., disse que, apesar das
desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A
gente tinha uma relação profissional. Apesar
das muitas brigas, éramos amigos há mais de
20 anos", falou.
"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem
por dentro, tinha essa rebeldia que o cara
novo gosta", destacou o produtor Rick
Bonadio, que lançou o álbum de estreia do
Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a
falar com o músico recentemente para
mostrar novas faixas. "O Chorão era um cara
de personalidade forte, brigava com as
pessoas, entre a gente nunca teve problema.
No estúdio, ele era sempre respeitoso.
Quando eu pedia três músicas, ele fazia 20.
Era fantástico, muito criativo e carinhoso".
O jornalista José Julio Espírito Santo, que
trabalhava na gravadora Virgin na época do
primeiro disco, lembrou que, apesar de ser
"uma pessoa muito amável em certos
momentos", o músico parecia sofrer de "um
transtorno bipolar sério, e que talvez nunca
tenha tratado". "Ele tinha uma relação de
amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da
Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído
disso e ele sempre se fechava na minha sala
para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir
uns discos."
Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e
diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha
uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser
verdadeiro, amava música e sabia o que
queria. Era preciso ter sensibilidade para
entender o jeito dele".
Uma das últimas pessoas a ter contato com
Chorão, o radialista Tatola, da UOL 89 FM,
recebeu uma visita surpresa do cantor na
quinta-feira passada, nos estúdios da rádio
paulistana. Durante o programa "Quem Não
Faz, Toma", o cantor levou uma música
inédita, intitulada "Meu Novo Mundo".
"Ele foi na rádio por acaso, acompanhado do
filho [Alexandre]. Ninguém esperava ele lá. Ele
disse que tava ouvindo o programa e resolveu
subir", contou. O apresentador, que no
passado teve desavenças com o cantor, ficou
surpreso com a visita e emocionado ao
relembrar a cena. "Ele subiu, me abraçou
muito, muito mesmo. Me pediu desculpas, e
eu pedi para ele deixar para lá".
O cantor permaneceu por cerca de duas horas
na emissora, junto de seu filho, Alexandre, de
23 anos, fruto do relacionamento com Thais
Lima. Fora do ar, chegou a afirmar que estava
muito abalado por causa da separação da
última mulher, Graziela Gonçalves, e que
estava retomando o apartamento em São
Paulo. "O apartamento estava bagunçado
porque ele estava reformando e vivia fazendo
festas. Não tinha nada de briga. Ele estava
triste e se enfiou onde não devia se enfiar."
Pelas redes sociais, diversas personalidades
lamentaram a morte de Chorão, entre elas o
apresentador Luciano Huck, a ministra da
Cultura, Marta Suplicym a apresentadora Ana
Hickmann e os ídolos da torcida do Santos
Neymar e Robinho.
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