A Polícia Civil do Rio resgatou
o chinês Yin Qiang Quan, de 22 anos, de uma
pastelaria no bairro de Parada de Lucas, zona
norte do Rio, onde era submetido a intensas
agressões físicas e a condições de trabalho
análogas à escravidão. A polícia suspeita que
Quan tenha sido vítima de uma quadrilha de
tráfico internacional de pessoas.
Com graves ferimentos pelo corpo, a vítima
foi levada ao Hospital Estadual Getúlio Vargas,
na Penha, onde permanece internada na
Unidade Semi-Intensiva, sem previsão de alta.
Os agentes chegaram à pastelaria no último
dia 2, após denúncia anônima repassada ao
Disque-Denúncia. O dono do estabelecimento,
o também chinês Yan Ruilong, de 28 anos, foi
preso em flagrante e indiciado pelos crimes
de tortura, redução à condição análoga à de
escravo, omissão de socorro e frustração de
direito assegurado por lei trabalhista.
Ruilong confessou a investigadores da 38ª
Delegacia de Polícia (Irajá) ter agredido Quan
com socos no rosto. Numa das agressões, a
vítima teve a cabeça arremessada contra uma
máquina de fazer massa, causando-lhe grave
lesão na orelha esquerda, que ficou
desfigurada. A pastelaria foi interditada
devido às más condições de higiene.
Em depoimento segunda-feira, 15, no
hospital, Quan contou que chegou ao Brasil
em maio do ano passado, junto com outros
cinco chineses. Todos foram recebidos no Rio
por um brasileiro, que os encaminhou aos
seus "empregos". Quan e outro chinês
permaneceram no Rio, e os outros quatro
teriam ido para São Paulo. Um missionário
norte-americano, fluente em mandarim, ficou
de tradutor durante o interrogatório de Quan,
que não fala português.
"A vítima explicou que sua família e a do
agressor são vizinhas na China. A promessa é
que ele receberia R$ 1.500 por mês para
trabalhar na pastelaria, mas na verdade o
salário sequer chegava a R$ 200. Segundo
Quan, as torturas teriam começado em
janeiro deste ano, quando ele manifestou pela
primeira vez o desejo de voltar para a China.
Ruilong alegava que havia pago a viagem dele
para o Brasil, e começou a proibi-lo a sair da
pastelaria. Dizia que o estabelecimento tinha
câmeras e que se ele tentasse fugir, apanharia
ainda mais. Amedrontado e sem saber falar
português, Quan permanecia naquela
situação", afirmou a delegada Maria Madalena
Carnevale, da 38ª DP.
Passaporte
A polícia já sabe que não há registro da
entrada de Quan no Brasil. A suspeita é que
ele chegou ao país com passaporte em nome
de outra pessoa. Os agentes vasculharam a
pastelaria, mas não acharam nada em nome
do chinês. "Quan disse que Ruilong reteve
seus documentos. Vamos tentar incluir a
vítima no Programa de Proteção à
Testemunha, já que ele está com muito medo.
Além disso, soubemos que vários chineses que
ele desconhece tentaram visitá-lo no hospital,
mas foram impedidos pela direção", disse a
delegada.
Cópias do procedimento serão encaminhadas
à Polícia Federal, que é a responsável por
investigações de tráfico de pessoas. Como está
ilegal no Brasil, normalmente Quan seria
extraditado. Porém, como foi vítima de
tortura e trabalho escravo, pode conseguir o
direito de permanecer no país por questões
humanitárias, explicou Carnevale. O caso
também está sendo acompanhado pelo
Ministério Público do Trabalho (MPT).
terça-feira, 16 de abril de 2013
Chinês era agredido e escravizado no Rio
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