Médicos, dentistas e fisioterapeutas que
atendem planos de saúde afirmam que têm
deixado de realizar cirurgias ou outros
procedimentos por causa dos valores pagos
pelos planos de saúde. A remuneração é
considerada baixa por eles.
Segundo uma pesquisa realizada pela APM
(Associação Paulista de Medicina) feita com
5.000 profissionais da área, 61% dos médicos
ouvidos afirmaram ter deixado de realizar
cirurgias e procedimentos mais complexos.
Entre os dentistas, 70% afirmaram o mesmo e,
entre os fisioterapeutas, 58%.
A pesquisa foi apresentada para a imprensa às
vésperas de um protesto nacional dos
profissionais da saúde contra os valores pagos
pelos convênios médicos.
Na próxima quinta-feira, eles farão um dia de
paralisação --atenderão apenas emergências.
Na prática, os médicos que aderirem deixarão
de marcar consultas menos urgentes neste
dia.
Entre 7h e 10h de quinta, eles também farão
um ato na avenida Paulista.
"Será um dia de alerta nacional. Hoje, a saúde
suplementar vive uma crise. Há uma relação
ruim dos planos com os profissionais e isso
prejudica seriamente a qualidade para o
paciente. As pessoas hoje enfrentam as
mesmas dificuldades encontradas no SUS
(Serviço Único de Saúde)", diz Florisval
Meinão, presidente da APM.
Ele citou como exemplo a reportagem da
Folha publicada na última segunda-feira, que
mostrou que crianças chegam a esperar até
seis horas pelo atendimento de um pediatra e
três dias por uma internação nos principais
hospitais privados de São Paulo.
Segundo a associação, os médicos têm
deixado de realizar cirurgias porque os valores
pagos pelos convênios pelos procedimentos
não compensam para os médicos.
Marun David Cury, diretor de Defesa
Profissional da APM, diz que os planos pagam,
em média, R$ 265 por uma cirurgia de
retirada de útero, que demora três horas. Pela
realização de cinco consultas neste mesmo
período (a R$ 60 cada) eles recebem mais do
que isso.
"Para os convênios, isso é melhor. Cirurgia
envolve custos maiores para eles [com
hospital e material usado]", diz Meinão. Por
isso, segundo ele, as operadoras têm
reajustado menos os valores das cirurgias do
que o das consultas.
INTERFERÊNCIA
A pesquisa, realizada com os profissionais de
saúde pela internet entre 3 e 14 de abril deste
ano, apontou ainda que muitos deles se
queixam da interferência dos planos no
trabalho realizado.
Entre os médicos, 77% dizem que operadora
já deixou de autorizar procedimentos ou
medidas terapêuticas e 69% dizem que o
plano já restringiu procedimentos de alta
complexidade.
Quase todos (98%) também afirmaram que
estão insatisfeitos com a remuneração paga
pelos planos. A insatisfação também é grande
entre os dentistas (97% disseram isso) e entre
os fisioterapeutas (98%).
Os dentistas também apontaram como
principal problema com as operadoras a
exigência de raio-X antes e depois da
realização dos procedimentos para comprovar
que os tratamentos foram feitos nos
pacientes.
Reportagem da Folha feita em novembro do
ano passado mostrou que a OdontoPrev,
maior operadora de saúde suplementar da
área odontológica, foi punida pelo Conselho
Federal de Odontologia pela prática.
O uso de indiscriminado de radiografias pode
colocar em risco a saúde do paciente por
causa da radiação.
OUTRO LADO
A Abramge (Associação Brasileira de Medicina
de Grupo) diz que os planos de saúde que
representa têm participado de grupos de
trabalho e câmaras técnicas que analisam
novos modelos de remuneração aos
profissionais da saúde.
"As operadoras e os médicos prestadores de
serviços devem negociar a remuneração caso
a caso (...) O movimento dos médicos é
aceitável, desde que não prejudique o
atendimento aos beneficiários dos planos de
saúde", afirmou a associação em nota.
terça-feira, 23 de abril de 2013
Médico deixa de fazer cirurgia devido ao baixo valor pago por plano
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