Aliados no plano federal, PMDB e PT caminham para uma ruptura no Rio
de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país. “Eu vou resistir”,
declara o senador petista Lindbergh Farias sobre sua disposição de
concorrer ao governo fluminense em 2014. “Essa é a eleição que eu não
aceito a hipótese de não disputar. Eu vou às últimas consequências nessa
luta.”
Em entrevista ao blog, Lindbergh declarou que é “quase uma chantagem”
o que o PMDB do Rio, liderado pelo governador Sérgio Cabral, vem
fazendo com Dilma Rousseff. “O que o PMDB está dizendo? Ameaça não
apoiar a Dilma se o PT lançar seu candidato. A gente não aceita isso. As
pessaos têm que ter direito de escolha.”
Lindbergh aparelha-se para enfrentar a candidatura de Luiz Fernando
Pezão, o vice-governador que irá às urnas como candidato da
continuidade. Tomado pelas palavras, o senador petista acha que a gestão
Cabral não merece continuar. “É um governo elitista”, diz ele. “É como
se existissem dois Rios de Janeiro muito diferentes.”
“Tem o Rio de Janeiro do cartão postal e o Rio de Janeiro da vida
real”, afirma Lindbergh a certa altura. Só o primeiro Rio, o das
paisagens, recebe atenção: “O governo Sérgio Cabral tem priorizado a
Zona Sul e a Barra da Tijuca.” Mal comparando, Lindbergh leva aos lábios
um discurso semelhante ao que Lula utiliza no plano federal, desde
2002, contra o PSDB –uma legenda à qual Cabral já foi filiado.
Assessorado por João Santana, o jornalista que cuidou do marketing
das campanhas de Lula e Dilma, Lindbergh já nem faz mistério do que está
por vir: “O nosso discurso no Rio vai ser muito baseado no que o Lula
fez no país. Nós vamos dizer o seguinte: o Brasil deu um salto no
governo do Lula porque o Lula olhou para os mais pobres, olhou para os
trabalhadores.”
O senador acusa Cabral de fazer o inverso no Rio. Água? “Não falta na
Zona Sul e na Barra. Mas falta na Baixada Fluminense, em tudo que é
lugar.” Saneamento? “O governo investe muito pouco”, diz Lindbergh. “Mas
o maior investimento é na Barra da Tijuca.” Na periferia, “esgoto a céu
aberto.” Nem a mais festejada iniciativa de Cabral, a Unidade de
Polícia Pacificadora, escapa à língua do antagonista.
Lindbergh diz apoiar as UPPs. Chega mesmo a declarar que, eleito, seu
“sonho” é manter no comando da Segurança Pública o secretário José
Mariano Beltrame, a quem se refere como “figura fantástica”. Porém, a
UPP “tem distorções que o povo não aceita”, diz ele. “O número de
policiais por habitante na Zona Sul é 15 vezes maior do que na Baixada
Fluminense.” Expulsos das áreas “pacificadas”, os bandidos migram para
as áreas mais pobres, onde há menos policiais.
Chamado de “moleque” e “carreirista” por Jorge Picciani, presidente
do PMDB no Rio, Lindbergh diz que está “acostumado a enfrentar esse
pessoal” desde os tempos em que foi prefeito de Nova Iguaçu. Disse que
os pemedebistas “agem como se fossem proprietários do Rio de Janeiro”. E
dá de ombros: “Nós não temos medo dessa estrutura, dessa máquina do
Estado. Isso deu mais vontade à gente.”
Alvejado por um dossiê atribuído ao PMDB, no qual é acusado de
receber propinas à época em que governou Nova Iguaçu, Lindbergh nega as
acusações –“Eu não sou patrimonialista”— e lança uma espécie de repto a
Cabral e seu grupo: “Quero ver se eles têm condições de enfrentar um
debate desses comigo. Estou pronto para esse debate. Quero ver. Cada um
que explique tudo.”
O PMDB de Cabral afirma que não aceitará a política de palanque duplo
no Rio. Significa dizer que Dilma Rousseff não poderia desfilar sua
recandidatura senão ao lado de Luiz Pezão. Lindbergh radicaliza noutra
direção. Afirma que Dilma terá no Rio não dois, mas três palanques: o do
PT, o do PMDB e o do PR de Anthony Garotinho. “Nós não vamos querer
monopolizar a Dilma e o Lula.”
Lindbergh dispõe de pesquisa que o deixa bem posto na largada. Foi
feita pelo instituto Vox Populi. Acomoda-o em primeiro, com 28% das
intenções de voto. A seguir vem Garotinho, com 21%. Em terceiro, Pezão,
com 10%. O senador petista afirma que o PMDB já teve sua oportunidade
nas duas gestões de Cabral. E não aproveitou.
“O governo Cabral perdeu uma chance grande, porque nunca existiu um
governo que teve tanto apoio do governo federal, recursos para obras
estruturantes. E, não foram feitas”, declara. Com uma ponta de ironia,
Lindbergh diz que, eleito, pode adotar o slogan da gestão Cabral
–“somando forças”— com maior eficiência. “Eu acho que incorporo o
‘somando forças’ mais ainda, porque seria um governador do mesmo partido
da presidenta Dilma, se ela for reeleita.”
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