quarta-feira, 1 de maio de 2013

Zumbido é sintoma de problemas que vão do estresse à perda de audição

Som do apito de uma panela de pressão,
barulho do chuveiro ou canto da cigarra
constante. É assim que as pessoas que têm
zumbido no ouvido descrevem o som que
ouvem diariamente. Trata-se de um
barulhinho que está sempre lá - pode até
passar despercebido às vezes, mas em outras
ocasiões chega a ser enlouquecedor.
Cerca de 17% da população mundial têm
zumbido, de acordo com dados da
Organização Mundial da Saúde, o que
corresponde a cerca de 278 milhões de
pessoas. Só no Brasil o problema atinge 28
milhões. A maioria dos pacientes que sofre
com o problema se refere a ele apenas como
um incômodo. Porém, quem sofre com a
forma grave de zumbido relata casos de muito
sofrimento, que pode acarretar depressão e
insônia, afetar a qualidade de vida e
prejudicar a capacidade de executar
atividades rotineiras como trabalhar ou
estudar.
"Alguns pacientes não se incomodam com o
barulho, outros se sentem desconfortáveis a
ponto de não conseguir dormir direito ou
realizar suas atividades normalmente.
Estimativas revelam que em 80% dos casos, o
zumbido é bloqueado pelo cérebro e o
indivíduo não sente incômodo. Porém, cerca
de 15% dos pacientes sentem indisposições
com o zumbido e 5% têm o chamado
'zumbido incapacitante', que compromete a
vida profissional, social e a saúde", aponta
Rita de Cássia Cassou Guimarães, especialista
em otorrinolaringologia e otoneurologia e
coordenadora do Grupo de Informação a
Pessoas com Zumbido de Curitiba (GIPZ
Curitiba).
O zumbido, também conhecido como
tinnitus ou tinido, é definido como um som
nos ouvidos ou na cabeça sem a presença de
uma fonte externa. Ele não é uma doença,
mas sim o sinal de que alguma coisa está
errada. Na verdade, ele pode ser o sintoma
de mais de 200 problemas de saúde, que vão
de questões odontológicas até psicológicas,
passando por questões hormonais, doenças do
labirinto, alterações vasculares, problemas
musculares e aumento do colesterol.
Porém, a causa mais frequente do problema é
a perda de audição. "Nove em cada dez
pacientes têm perda auditiva", afirma
Guimarães. "Vale lembrar que o zumbido não
causa surdez, mas a surdez pode provocar
zumbido", diz. Envelhecimento, exposição a
ruídos, medicamentos, doenças e até traumas
cranianos podem causar alguma lesão na
estrutura do ouvido, o que pode acarretar
perda de audição e o zumbido.

Entender melhor o problema, tendo apoio
social além de médico, contribui
significativamente para enfrentar e até a
resolver os casos de zumbido.
Assim que o zumbido surge, deve-se procurar
um especialista em otorrinolaringologia.
Quanto mais cedo isso for feito, maior é a
chance de se ter sucesso no tratamento. O
otorrinolaringologista realizará uma série de
exames para buscar identificar a causa do
zumbido.
O maior desafio no tratamento do zumbido é
justamente descobrir sua causa, já que ele
está relacionado a mais de 200 motivos.
Como as causas são variadas, a intervenção
deve ser multidisciplinar. Odontologia,
psicologia, fisioterapia e fonoaudiologia são
algumas das áreas que atuam em conjunto
para cuidar dos pacientes.
O tratamento pode ser feito por meio de
medicamentos, cirurgias, fisioterapia, terapias
etc., dependendo das causas do zumbido.
"Não existe um tratamento específico. O que
se faz é uma busca das causas e então é feito
o tratamento destas causas, personalizado
para cada caso", explica Mezzalira.
A melhora no zumbido também depende do
grau de informação do paciente. Saber mais
sobre o problema pode ajudar muito no
tratamento. Ter apoio para desmistificar o
problema e conseguir lidar melhor com ele
também.
"A participação em grupos de ajuda, como o
Grupo de Informação a Pessoas com Zumbido
de Curitiba (GIPZ), é essencial para a
desmistificação do zumbido e atualização",
diz Guimarães.
Existem outros grupos que também dão
suporte às pessoas que sofrem com zumbido
no ouvido, como o Grupo de Apoio a Pessoas
com Zumbido (GAPZ), que tem centros em São
Paulo, Campinas, Curitiba, Brasília, Salvador,
Rio de Janeiro e São José do Rio Preto, e o
Grupo de Apoio Nacional a Pessoas com
Zumbido (GANZ), que esclarece dúvidas
online.

Razões emocionais
Mas o zumbido também pode ter razões
emocionais. Sentimentos como depressão,
frustração e nervosismo podem causar o
problema. Uma das razões que explicam essa
relação é que situações de muito estresse ou
ansiedade, por exemplo, podem resultar em
apertamentos exagerados da musculatura
mastigatória (como o bruxismo), que causam
a compressão de áreas vascularizadas
próximas aos ouvidos, e os sinais enviados ao
cérebro são interpretados como zumbido.
O mesmo acontece em casos de má oclusão
dentária e excesso de força na musculatura
facial. "Os aspectos odontológicos podem
causar o zumbido, influenciar a sua
intensidade ou agravar o quadro quando o
sintoma já existe por outros motivos", destaca
o ortodontista e ortopedista facial Gerson
Köhler, membro do GIPZ Curitiba.
Mas não é só isso. Os especialistas afirmam
que as emoções negativas também podem
agravar a percepção do zumbido. Isto é, se a
pessoa não está bem emocionalmente, então o
cérebro dará mais atenção ao zumbido. O
paciente pode até dizer que o zumbido
aumentou, mas na realidade é a sua
percepção que está mais aguçada devido aos
pensamentos negativos, que induzem o
cérebro a identificá-lo como uma ameaça.
"O grau de incômodo depende da importância
que a pessoa dá ao seu zumbido e da
associação dele com emoções negativas. Este é
um dos motivos pelos quais é muito
importante que o tratamento seja iniciado o
mais precocemente possível evitando que
estas associações negativas ocorram", alerta a
professora do Departamento de
Otorrinolaringologia, Área de Cirurgia em
Cabeça e Pescoço da Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) da Unicamp Raquel Mezzalira.
Cigarro e celular
Um estilo de vida saudável é essencial para
evitar o zumbido, ou ao menos amenizar seus
efeitos. Pesquisa realizada pela Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo) apontou
que os fumantes têm mais chances de
desenvolver o problema.
A pesquisa avaliou 72 fumantes e 72 não
fumantes, e concluiu que quase metade dos
fumantes avaliados tiveram problemas
auditivos – 40% deles zumbido. Deficit de
oxigenação no sangue, obstruções vasculares
e alterações na viscosidade sanguínea
provocados pelo cigarro seriam as possíveis
razões que levariam ao problema, de acordo
com a pesquisa.
A ingestão de bebida alcoólica também estaria
relacionada ao agravamento do problema. O
álcool não seria responsável pelo surgimento
do zumbido, mas várias pesquisas comprovam
que a ingestão frequente ou em altas doses
piora, e muito, a sensação do zumbido.
Pesquisas recentes também relacionam o uso
frequente do celular com a piora da condição.
Um estudo feito na Universidade de Viena, na
Áustria, publicado no Occupational and
Environmental Medicine , apontou que
pessoas que usam o celular frequentemente e
por períodos prolongados têm 70% mais
chances de desenvolver zumbido no ouvido.
A explicação é que a energia gerada pelo
telefone é afunilada no canal auditivo e que
os ossos do ouvido acabam absorvendo todo
esse impacto, o que gera o zumbido.
Alimentação saudável
Pode parecer mentira, mas uma alimentação
equilibrada é fundamental para manter
também a saúde dos ouvidos. Maus hábitos
alimentares, como abusar da ingestão de
doces e alimentos gordurosos, ter uma dieta
pobre em vitaminas e minerais ou ficar sem
comer por períodos prolongados, são
constantemente associados por especialistas
com o zumbido. "Erros alimentares com
abuso da ingestão de doce e cafeína e
períodos prolongados de jejum são causas
comuns de zumbido", diz Mezzalira.
Por outro lado, uma dieta balanceada pode
ajudar – e muito – a reduzir o problema.
Evitar cafeína, doces, alimentos gordurosos e
sal em excesso, assim como beber muito
água, preferir alimentos frescos e integrais e
uma dieta rica em frutas e verduras podem
fazer a diferença. Alimentar-se bem se reflete
na saúde e no bem-estar, e ajuda o paciente a
lidar melhor com o problema – além de
contribuir para que o tratamento seja bem
sucedido.

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