Luiz Felipe Scolari, 64, não se esconde. Último
treinador campeão mundial com a seleção
brasileira, foi chamado há cinco meses para
dirigir o Brasil na Copa do Mundo, que começa
daqui a 14 meses.
Assumiu o time e se impôs a missão de
aproximar a torcida de uma seleção que ele
sabe estar distante. Em quatro partidas, o
técnico soma uma derrota para a Inglaterra,
empates ante Itália e Rússia e vitória sobre a
Bolívia.
Em entrevista à Folha, Felipão desafia o senso
comum. Cita três times à frente da favorita
Espanha, põe Cristiano Ronaldo à frente de
Messi e assume o risco: "Não tenho medo de
perder o Mundial."
Folha - Depois de quatro jogos, em que ponto
está a seleção brasileira hoje?
No ponto certo. Já temos uma base, um estilo
de jogar, faltam algumas definições, treinar
algumas alternativas.
Para estar na seleção tem que estar jogando no
clube?
Não, não é preciso, não. Eu tenho que ter a
convicção de que o jogador é importante para
a seleção brasileira.
Até onde Neymar vai chegar?
O Neymar é muito, muito bom, como jogador e
como atleta. Ele é obediente e, taticamente,
está mais completo. Ele tem uma liderança
muito grande. É um jogador que vai ainda ser
muito melhor daqui a dois, três, cinco anos. E
aí por mais dez anos.
Você tem uma preocupação de protegê-lo,
mimá-lo?
Não diria mimar. Mas ele tem muitos
contratos, tem muitas situações fora do futebol
em que é envolvido. Se eu conseguir preservá-
lo na seleção, vai ter mais descanso. Futebol é
corpo, tem que estar inteiro, voando.
Nesse sentido, ir para Europa pode ser bom
para ele?
Na Europa se trabalha de forma diferente esse
aspecto. A mídia não tem tanto acesso. O clube
não permite, toma conta das áreas comerciais.
Para a seleção, seria melhor?
Eu vi o Neymar melhorar muito nos últimos
dois anos, com o Muricy [Ramalho] no Santos.
Se ele quiser ir, vai ser ótimo. Para a seleção
seria bom. Mas ele não precisa ir.
É preciso ter volantes mais marcadores no
meio?
A seleção ganhou em 1994 e quem eram os
volantes? Mauro Silva e Dunga? 2002? Gilberto
Silva e Kleberson. Essa história de volante
goleador é muito bonito para a imprensa. É
bonito, só não é bonito para o técnico e o
time. Quando tu tens laterais como os nossos,
Daniel Alves e Marcelo, tem que ter proteção.
A lembrança de 1950 existe?
Existe como recordação, mas eu vou fazer de
tudo para afastar. Em 2002 ninguém quis
reviver 1998. E, se teve 1950, vou lembrar que
houve 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.
Hoje não há nenhum brasileiro que seja o
principal jogador dos grandes clubes europeus.
Por quê?
Hoje a safra mudou. Os craques que
exportamos agora são zagueiros, laterais,
goleiros. É um ciclo. E com a Argentina ocorre
o contrário: agora eles têm os melhores
atacantes da Europa
Quem são os maiores rivais do Brasil para
2014?
Dos que já estão organizados, Alemanha, Itália
pela tradição e porque renovou, temos a
Argentina jogando muito bem. Quem mais?
Num nível já muito bom são essas.
Deixou a Espanha fora dessa lista de propósito?
Eles [Espanha] vêm jogando juntos e tudo mais,
mas vamos ver essa parte final da eliminatória.
A Holanda joga muito bem, a Rússia vai
incomodar. Mas aqueles três, com a Espanha
sendo uma quarta, vão estar entre os oito.
O Brasil é favorito?
Favorito absoluto não. Está no nível de outros.
Não temos diferença nenhuma para os outros.
O que falta é a definição total de como jogar.
Aí nossa qualidade entra.
Quando assumiu, Dunga teve a missão de
resgatar o respeito pela camisa; Mano, a de
renovar o time. E você?
Não recebi missão nenhuma. Tenho que montar
uma boa equipe, fazer o povo acreditar que a
seleção vai ganhar a Copa, resgatar a imagem,
porque a gente nota que a população está um
pouco...
Desconfiada?
Isso. Resgatar a imagem de que a seleção é
importante, como jogo de futebol e como
emblema. E a gente vem fazendo um
pouquinho, melhorando essa imagem.
Você leva o peso de ser considerado o salvador
da pátria?
Eu fico feliz, porque quando eu saio, o que
mais ouço é isso, nos aeroportos, em qualquer
lugar, é que "estamos contigo", que "agora
vai". Eu passo a ideia de que vamos ganhar, de
que temos condições de ganhar.
Teme deixar de ser o técnico que ganhou a
Copa de 2002 para virar o que perdeu 2014?
Se eu pensar dessa forma... O cara que vendeu
um terreno na avenida Paulista, por 50
milhões, nunca mais vai vender terreno?
Passou. Aquela Copa foi ganha, terminou, vou
atrás de outro objetivo. Tenho que pensar de
forma otimista, que vou ganhar. E, se perder,
será porque não tive qualidade, meus jogadores
não foram superiores aos outros. Não tenho
esse medo.
Em 2001 você assumiu a seleção com um
presidente da CBF contestado, Ricardo Teixeira.
A situação se repete agora com José Maria
Marin. Isso afeta o seu trabalho?
Na minha área não. Porque divide-se muito.
Nós temos a CBF entidade, lá, mas a minha
área é a técnica.
Como é conviver com Marin?
A gente conversa, explica o que está fazendo. O
presidente e o Marco Polo [Del Nero, vice] têm
sido muito legais, nos deixam à vontade para
convocar, para administrar. Está muito bom.
Os técnicos brasileiros estão desatualizados?
Você está?
Não. Eu troco informações, vou a seminários.
Converso com Arsene Wenger, Paulo Bento,
Fabio Capello. Cada um fala o que quer. O
Ronaldo, por exemplo, disse que tem outras
opções para a seleção. Respeito as opções dele.
Ele já fez as opções dele.
Cristiano Ronaldo ou Messi?
Messi é fantástico, mas Cristiano é mais
fantástico.
Se pudesse naturalizar um deles brasileiro, qual
seria?
Não dá, não posso [risos]. Já fui criticado
porque naturalizei Deco e Pepe em Portugal.
Imagina aqui. Gosto do Cristiano por outra
razão.
Qual?
No Barcelona, as outras estrelas não se
incomodam com a grande estrela, que é o
Messi. No Real Madrid, a impressão que eu
tenho é que as outras estrelas se sentem
incomodadas com a grande estrela que é o
Cristiano. Ele faz tudo que faz, iguala o Messi,
então para mim é o Cristiano.
Seleção de 1982 ou 1994?
1994. Foi vencedora.
Guardiola ou Mourinho?
São dois dos melhores do mundo, do mesmo
nível.
Você já disse que jogador bom é jogador com
fome. Essa geração do Brasil tem fome?
O Neymar ganha o que ganha e tem fome.
Cristiano Ronaldo tem fome. Já ouviu falar de o
Messi faltar a treino?
Vai recriar a família Scolari?
Já passou. O termo foi ali de 2002. Agora é
outro grupo, não sei que palavra nós vamos
achar. Mas pelo que vi, vamos ter um ótimo
grupo.
Em 2002 seu livro de cabeceira era "A Arte da
Guerra" E hoje?
Ah, já não é mais ou mesmo. Estou buscando
alguns livros, algumas citações.
Tem como controlar jogador?
Tem. Tu podes deixar até determinado horário,
eles estão ali, tu observas. E eles também são
responsáveis.
E acesso a redes sociais?
Eu acho que não deveriam falar nada. A gente
pede, não exige. Nós indicamos o caminho.
Mas não dá para pegar uns caras de 30 anos e
dizer que está proibido, é absurdo. Se interferir
no ambiente, a gente vai tomar posição.
Onde você se vê no dia 14 de julho de 2014?
Ainda no Rio. O jogo [final da Copa do Mundo]
vai ter sido na noite anterior, no Maracanã.
Vou querer pegar um avião para algum lugar
do Brasil. E a final da Copa é no dia 13, vou
levar o Zagallo.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Felipão diz que Neymar precisa ser preservado e descarta volante goleador
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário