O segundo dia do julgamento do ex-policial
Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado
de ser o executor de Eliza Samudio, ex-
amante do goleiro Bruno Fernandes, já
condenado pelo crime a 22 anos de prisão,
terá os depoimentos de cinco testemunhas de
acusação.
Os depoimentos das testemunhas de defesa
acontecerão na sequência, mas estima-se que
não sejam feitos nesta terça. A sessão de hoje
está prevista para começar às 9h no Fórum
Doutor Pedro Aleixo, em Contagem (região
metropolitana de Belo Horizonte).
O primeiro a depor será o detento Jaílson
Alves de Oliveira, que foi colega de cela de
Bola na penitenciária Nelson Hungria. Ele
afirma ter ouvido do acusado um suposto
plano para matar pessoas ligadas à
investigação da morte de Eliza Samudio.
O corpo de jurados, formado ontem, é
composto por quatro homens e três mulheres.
O primeiro dia foi marcado pela tentativa da
defesa do réu em adiar o julgamento, mas a
juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues não
acatou o pedido.
O argumento usado foi existir um recurso
ainda em julgamento em instância superior e
a ausência de uma testemunha, um jornalista
que foi absolvido da acusação de ter matado a
mulher, depois de ter sido indiciado pelo
então delegado Edson Moreira, chefe do
Departamento de Investigações de Minas
Gerais.
O policial chefiou as investigações sobre o
sumiço de Eliza Samudio. Quaresma se
mostrou também contrário ao não
comparecimento da delegada Alessandra
Wilke. Ela seria ouvida como informante.
Segundo a juíza Marixa Rodrigues, a
explicação dada pela chefia da policial foi de
que ela estava a trabalho em uma cidade do
interior de Minas Gerais.
A magistrada aceitou apenas o pedido da
defesa em relação ao jornalista e determinou
a condução coercitiva dele ao fórum. A
testemunha chegou ao local no início da tarde
de ontem. No entanto, os demais pleitos
foram negados pela magistrada.
Durante a fase intitulada de preliminares, na
qual a defesa faz pedidos à juíza, o advogado
do ex-policial ainda tentou a retirada da
certidão de óbito de Eliza Samudio do
processo.
O documento foi emitido por ordem da
Justiça mineira em janeiro deste ano. A juíza
não acatou o pedido afirmando que a
expedição da certidão de óbito havia sido
determinada depois do julgamento de Luiz
Henrique Ferreira Romão, em novembro do
ano passado, em que ele foi condenado a 15
anos de prisão pela morte de Eliza Samudio.
Segundo a magistrada, à época, os jurados
reconheceram a morte da ex-amante do
goleiro Bruno Fernandes.
Conforme Quaresma, como "não cabem
recursos ao documento" isso seria prejudicial
ao seu cliente. O advogado entende que a
apresentação da certidão iria influenciar na
decisão dos jurados sobre o caso. Essa foi a
principal reivindicação da explanação feita
pelo por ele durante os quarenta e cinco
minutos de sua fala.
Na certidão de óbito de Eliza Samudio ainda
está relatado que ela "foi morta por
esganadura". "Emprego de violência aplicada
na forma de asfixia mecânica [esganadura]".
A expedição do documento foi determinada
por Marixa Rodrigues, que presidiu os
julgamentos de Luiz Henrique Romão, o
Macarrão, e do goleiro Bruno Fernandes,
condenados e cumprindo pena na
penitenciária de segurança máxima Nelson
Hungria, em Contagem, região metropolitana
de Belo Horizonte, pela morte da ex-modelo.
O advogado José Arteiro, assistente da
acusação, afirmou, por sua vez, que o
documento será utilizado como peça de
acusação. "Bola não se contentava só em
matar. Ele também torturava. É um cara
muito ruim e mata rindo. Ele está sendo
acusado pelo crime com dois qualificadores,
motivo torpe e sem chance de defesa para a
vítima. É óbvio que a certidão de óbito será
utilizada", disse Arteiro.
Já o promotor Henry Castro rebateu os
questionamentos de Quaresma durante os 45
minutos dados ao Ministério Público.
"Não merece acolhida [pedido da defesa de
Bola], pois a emissão de tal documento
decorreu da coisa julgada. Em torno da
condenação proferida ao réu Luiz Henrique
Ferreira Romão [em novembro do ano
passado]. Naquela oportunidade, o conselho
de sentença reconheceu, e contra isso não se
insurgiu a defesa daquele réu, até porque
confesso ele [foi], que Eliza Silva Samudio foi
assassinada por no endereço da rua
Araruama, 173 – Vespasiano", afirmou.
Defesa tenta desqualificar inquérito
A delegada Ana Maria Santos, que era chefe da
delegacia de homicídios de Contagem (MG),
onde o inquérito sobre o sumiço de Eliza foi
instaurado inicialmente, em 2010, deu
depoimento como informante na tarde de
ontem.
Ela foi questionada pelo advogado Ércio
Quaresma sobre a razão de o ex-policial José
Lauriano de Assis Filho, o Zezé, não ter sido
indiciado pela Polícia Civil, apesar de haver
"cinquenta ligações" entre ele e os demais
réus no dia indicado como sendo o da morte
de Eliza Samudio (10 de junho de 2010).
A delegada afirmou que à época não havia
elementos para indiciá-lo e não recordava se
a quebra do sigilo telefônico, que apontou as
ligações, já estava incluído no inquérito
policial feito à época.
Atualmente, uma investigação sigilosa da
Polícia Civil mineira, feita a pedido do
Ministério Público, é realizada sobre a suposta
participação do ex-policial e de mais um ex-
integrante da polícia mineira na morte de
Eliza.
Supostas falhas no inquérito sobre a morte de
Eliza serão exploradas pela defesa, que tentará
desacreditar, perante os jurados, a
investigação e a consequente conclusão
apresentada ao Ministério Público.
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